Na canção "Fico assim sem você", de Abdullah e Cacá Moraes, o sujeito revela: "tô louco pra te ver chegar, tô louco pra te ter nas mãos, deitar no teu abraço, retomar o pedaço que falta no meu coração". Já na canção "Não sei o que dá", de Zélia Duncan, Ana costa e Mart'nália, o sujeito aponta: "Tava aqui pensando, tenho pão, tenho teto, mas é incerto porque falta você voltar".
Ambas falam da sensação de desconforto causado pela incompletude; pela ausência do outro: do amor. Sem o outro o sujeito nas duas canções simplesmente não existe: "Sei lá, é um vazio que dá": "Avião sem asa, fogueira sem brasa". Os sujeitos recuperam o mito dos andróginos cantado em O banquete de Platão: concebidos um, mas separados pelos deuses, para eles viver é buscar a metade "perdida". Aliás, mito que ainda hoje assombra o nosso Romantismo e inspira o pensamento sobre as almas gêmeas.
Chamam-nos à atenção dois versos de "Não sei o que dá": "Uma voz sem boca pra cantar" e "Como sereia metade anseia, metade é mar". Se no primeiro verso podemos perceber o sujeito cobrando da vida uma boca que lhe cante, necessidade de todo indivíduo; no segundo visualizamos um gesto circular e fadado ao fracasso: o amor.
Deste modo, o sujeito de "Não sei o que dá, um cantor, abre duas frentes para se entender o ato cancional: primeiro porque deixa vazar que a canção só se realiza de fato quando sai da boca de seu intérprete; e segundo porque, ao evocar a imagem da sereia, ser cantante por excelência, deixa entrever seu próprio estado interior (do sujeito): para que cantar se não tenho para quem?
O sujeito se engendra no canto, mas também usa o canto para, sensibilizando o ouvinte, chamar atenção para si: sereia que metade é a ânsia de cantar, mas não tem a boca (o médium); e metade é mar - segredo, mistério e desassossego sedutor.
Ana Costa, com participação de Mart'nália, no disco Meu carnaval (2006), cria um samba noturno: para uma sexta chuvosa na Lapa do Rio. A melodia, ora acompanhada por um coro que remete o ouvinte às vozes sedutoras das sereias, ora por um instrumento que se insinua ser uma gaita, desenha o sujeito que, mesmo tendo as possibilidades infinitas do mar, está só e incerto.
Chamam-nos à atenção dois versos de "Não sei o que dá": "Uma voz sem boca pra cantar" e "Como sereia metade anseia, metade é mar". Se no primeiro verso podemos perceber o sujeito cobrando da vida uma boca que lhe cante, necessidade de todo indivíduo; no segundo visualizamos um gesto circular e fadado ao fracasso: o amor.
Deste modo, o sujeito de "Não sei o que dá, um cantor, abre duas frentes para se entender o ato cancional: primeiro porque deixa vazar que a canção só se realiza de fato quando sai da boca de seu intérprete; e segundo porque, ao evocar a imagem da sereia, ser cantante por excelência, deixa entrever seu próprio estado interior (do sujeito): para que cantar se não tenho para quem?
O sujeito se engendra no canto, mas também usa o canto para, sensibilizando o ouvinte, chamar atenção para si: sereia que metade é a ânsia de cantar, mas não tem a boca (o médium); e metade é mar - segredo, mistério e desassossego sedutor.
Ana Costa, com participação de Mart'nália, no disco Meu carnaval (2006), cria um samba noturno: para uma sexta chuvosa na Lapa do Rio. A melodia, ora acompanhada por um coro que remete o ouvinte às vozes sedutoras das sereias, ora por um instrumento que se insinua ser uma gaita, desenha o sujeito que, mesmo tendo as possibilidades infinitas do mar, está só e incerto.
***
Não sei o que dá
(Zélia Duncan / Ana Costa / Mart’nália)
Sei lá, é um vazio que dá
Um vôo sem asa pra voar
Uma voz sem boca pra cantar
Não sei, não sei, não sei o que é que dá
Sei não, é um vazio
Um arrepio sem fogueira pra esquentar
É gostar da vida
Sem vida pra segurar, não sei o que é que dá
É o amor, sem gesto pra expressar
Como sereia metade anseia, metade é mar
É feito um prazer
Sem ter como desfrutar
Falta alguma coisa
Alguma peça nessa engrenagem
Miragem de amor, sei lá
Tava aqui pensando
Tenho pão, tenho teto
Mas é incerto porque falta você voltar
É o amor, sem gesto pra expressar
Como sereia metade anseia, metade é mar
(Zélia Duncan / Ana Costa / Mart’nália)
Sei lá, é um vazio que dá
Um vôo sem asa pra voar
Uma voz sem boca pra cantar
Não sei, não sei, não sei o que é que dá
Sei não, é um vazio
Um arrepio sem fogueira pra esquentar
É gostar da vida
Sem vida pra segurar, não sei o que é que dá
É o amor, sem gesto pra expressar
Como sereia metade anseia, metade é mar
É feito um prazer
Sem ter como desfrutar
Falta alguma coisa
Alguma peça nessa engrenagem
Miragem de amor, sei lá
Tava aqui pensando
Tenho pão, tenho teto
Mas é incerto porque falta você voltar
É o amor, sem gesto pra expressar
Como sereia metade anseia, metade é mar
3 comentários:
Olá Leonardo!! Caramba, que análise interressante!! Mandei o link pra dona da letra, Zélia Duncan. Muito obrigada!! bjs
não conhecia o blog. Já virei fã!! Parabéns pela iniciativa.
Oi, Leonardo! Nossa.. muito legal as suas análises. descobri o teu blog ontem.tomei a liberdade de segui-lo aqui e no twitter: http://twitter.com/anadasletras.
então, eu sou aluna de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto e estou querendo pesquisar música e literatura também. Já tenho algo em mente e um possível orientador. Ele gostou da ideia e tudo mais. Só que eu estou com dificuldade de encontrar bibliografia que fale sobre o assunto que eu pretendo pesquisar e acho que talvez você possa me ajudar. Bom, o meu e-mail é anacasanovamus@yahoo.com.br. Se puder mandar um e-mail pra mim, eu agradeceria muuito. Porque daí eu te falarei melhor sobre o meu projeto e quem sabe, é o que eu desejo, vc possa me ajudar. Desculpa invadir o teu blog assim, mas é que eu procurei o teu e-mail em toda parte e não encontrei. :(
abraço,
Ana
Postar um comentário