O sujeito de "Dia Branco", de Geraldo Azevedo e Renato Rocha, é a própria sereia tentando seduzir e convencer o ouvinte a com ela seguir "numa praça, na beira do mar". E faz isso usando a imagem de um dia branco: cheio de possibilidades para ser experimentadas e opções para ser engendradas.
Guardada no disco Inclinações musicais (1981), "Dia branco" é o canto que quer saciar os desejos do ouvinte - "sol se o sol sair, ou chuva se a chuva cair" - e assim fisga-lo. E o que é um ouvinte sem o canto? Nada, simplesmente não existe.
A sereia sabe disso e promete realizações neste sentido: o canto de amor singular que mantem o ouvinte vivo na vida. Porém, para tanto, o ouvinte precisa ir com ela - "pro que der e vier". A letra da canção começa com o "se" abrindo, assim, as segundas intenções da voz que canta.
A melodia lenta, passional, adensa o desejo de manter o ouvinte "parado" no canto: atento à canção amorosa e mais vulnerável à conquista. A lamúria humana é pelo reconhecimento, portanto, como negar o convite da sereia que me canta: que diz quem sou?
Por outro lado, tornando-me escravo desse canto, reconheço-me como um ser para a morte. Enquanto a sereia se arrisca, canta e me conquista, eu me acomodo e me torno agente da história, pela angústia de sempre necessitar do canto da sereia.
A nesga metacancional de "Dia branco", que acontece quando o sujeito da canção diz (canta) "Se branco ele for, esse tanto, esse canto de amor", é usada para apontar a consciência-de-si daquele que canta: a ficção é sedutora quando ela (o sujeito) conversa com ela mesma - impõe-se como ficção: interferência no "real".
A voz que canta (sempre ficcional) lança um impulso sobre o ar e acerta em cheio o ouvinte exausto de cotidiano. A voz pronuncia o mundo - constrói e desconstrói tempos e espaços - em abundância: desejo primordial do ouvinte. Cabe a este dizer sim ou não: abandonar o "se".
A sereia sabe disso e promete realizações neste sentido: o canto de amor singular que mantem o ouvinte vivo na vida. Porém, para tanto, o ouvinte precisa ir com ela - "pro que der e vier". A letra da canção começa com o "se" abrindo, assim, as segundas intenções da voz que canta.
A melodia lenta, passional, adensa o desejo de manter o ouvinte "parado" no canto: atento à canção amorosa e mais vulnerável à conquista. A lamúria humana é pelo reconhecimento, portanto, como negar o convite da sereia que me canta: que diz quem sou?
Por outro lado, tornando-me escravo desse canto, reconheço-me como um ser para a morte. Enquanto a sereia se arrisca, canta e me conquista, eu me acomodo e me torno agente da história, pela angústia de sempre necessitar do canto da sereia.
A nesga metacancional de "Dia branco", que acontece quando o sujeito da canção diz (canta) "Se branco ele for, esse tanto, esse canto de amor", é usada para apontar a consciência-de-si daquele que canta: a ficção é sedutora quando ela (o sujeito) conversa com ela mesma - impõe-se como ficção: interferência no "real".
A voz que canta (sempre ficcional) lança um impulso sobre o ar e acerta em cheio o ouvinte exausto de cotidiano. A voz pronuncia o mundo - constrói e desconstrói tempos e espaços - em abundância: desejo primordial do ouvinte. Cabe a este dizer sim ou não: abandonar o "se".
***
Dia branco
(Geraldo Azevedo / Renato Rocha)
Se você vier
Pro que der e vier
Comigo
Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva
Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar
Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor
Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo
(Geraldo Azevedo / Renato Rocha)
Se você vier
Pro que der e vier
Comigo
Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva
Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar
Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor
Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo
3 comentários:
fala amigo, parabéns pelo blog.
tomei a liberdade de fazer um post sobre seus escritos
passa lá
http://osamba.net/2010/12/23/365-cancoes-e-um-fred-astaire-no-samba/
"A voz que canta (sempre ficcional) lança um impulso sobre o ar e acerta em cheio o ouvinte exausto de cotidiano. A voz pronuncia o mundo - constrói e desconstrói tempos e espaços - em abundância: desejo primordial do ouvinte. Cabe a este dizer sim ou não: abandonar o "se"."
Poucas vezes li coisas que diziam tanto de mim como este trecho do Leonardo. É exatamente isso que acontece. Quando abandono o 'se' e digo sim ou não, os tempos e espaços construidos e desconstruidos pela voz, tornam-se parte do meu cotidiano, do qual estou cansada, e passo então a buscar outra voz. Será que vai ser sempre assim?
Amei seu blog!
Achei excelente as suas interpretações.
Estou seguindo!
http://umapitadadebruna.blogspot.com/
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