A canção "Somos todos iguais nesta noite", de Ivan Lins e Vitor Martins, trabalha com aquele tipo de igualdade que vem da massificação dos sentimentos e palavras, atos e omissões. O sujeito sugere, deixando sua crítica vazar, que o mundo é um circo onde nós seguimos o ritmo da banda de fanfarra.
Guardada no disco que também leva o nome de Somos todos iguais nesta noite (1977), a canção usa o recurso de fazer referência ao uso de máscaras (riso pintado) para tencionar que "há um incêndio sob a chuva rala".
Ou seja, há, por trás das aparências da movimentação do sujeito no mundo, sentimentos e sensações que não podem ser revelados, afinal, somos obrigados a caminhar e, cantando, seguir a canção. Um espectro de repressão, de uma força externa superior ao sujeito, atravessa a canção impondo o (pseudo) canto de igualdade.
Ser igual, aqui, é ter a certeza do sonho que fracassou: o desejo de igualdade pela liberdade de ser. Ora, se todos somos obrigados a usar a mesma máscara, onde está a diversidade, fator decisivo para a liberdade?
Maquiar-se, por um lado, é seguir a massa (vida de gado: "povo marcado, povo feliz", no "riso pintado") e, por outro lado, é resistência: é manter-se vivo. É deste modo que, ao sujeito, só resta cantar, seu canto é sua vida (lhe restitui a vida perdida na multidão e no embaraço dos prazeres): só lhe resta apresentar seu número (desempenhar seu papel) no palco, no picadeiro.
Aqui, podemos sentir a mensagem do cantor popular, cuja missão é ser sereia; é cantar e sustentar a vida coletiva (de todos os ouvintes) na voz; e é captar as inquietações do mundo (os incêndios individuais) e entoar um canto que abrace e mime o maior número possível de pessoas: que torne o corpo odara. Cantar o sonho acabado é tentativa de promover a rebelião.
Somos iguais, "entre luzes brandas e músicas invisíveis", nas necessidades primárias; nas (in)certezas; na exposição às mesmas leis (pelo chicote dos domadores); no "ensaio diário de um drama". Mas não falta força para cantar: viver o jeito de corpo individual e intransferível.
Ou seja, há, por trás das aparências da movimentação do sujeito no mundo, sentimentos e sensações que não podem ser revelados, afinal, somos obrigados a caminhar e, cantando, seguir a canção. Um espectro de repressão, de uma força externa superior ao sujeito, atravessa a canção impondo o (pseudo) canto de igualdade.
Ser igual, aqui, é ter a certeza do sonho que fracassou: o desejo de igualdade pela liberdade de ser. Ora, se todos somos obrigados a usar a mesma máscara, onde está a diversidade, fator decisivo para a liberdade?
Maquiar-se, por um lado, é seguir a massa (vida de gado: "povo marcado, povo feliz", no "riso pintado") e, por outro lado, é resistência: é manter-se vivo. É deste modo que, ao sujeito, só resta cantar, seu canto é sua vida (lhe restitui a vida perdida na multidão e no embaraço dos prazeres): só lhe resta apresentar seu número (desempenhar seu papel) no palco, no picadeiro.
Aqui, podemos sentir a mensagem do cantor popular, cuja missão é ser sereia; é cantar e sustentar a vida coletiva (de todos os ouvintes) na voz; e é captar as inquietações do mundo (os incêndios individuais) e entoar um canto que abrace e mime o maior número possível de pessoas: que torne o corpo odara. Cantar o sonho acabado é tentativa de promover a rebelião.
Somos iguais, "entre luzes brandas e músicas invisíveis", nas necessidades primárias; nas (in)certezas; na exposição às mesmas leis (pelo chicote dos domadores); no "ensaio diário de um drama". Mas não falta força para cantar: viver o jeito de corpo individual e intransferível.
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Somos todos iguais nesta noite
(Ivan Lins / Vitor Martins)
Somos todos iguais nesta noite
Na frieza de um riso pintado
Na certeza de um sonho acabado
É o circo de novo
Nós vivemos debaixo do pano
Entre espadas e rodas de fogo
Entre luzes e a dança das cores
Onde estão os atores
Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Vamos dançar mais uma vez
Somos todos iguais nesta noite
Pelo ensaio diário de um drama
Pelo medo da chuva e da lama
É o circo de novo
Nós vivemos debaixo do pano
Pelo truque malfeito dos magos
Pelo chicote dos domadores
E o rufar dos tambores
(Ivan Lins / Vitor Martins)
Somos todos iguais nesta noite
Na frieza de um riso pintado
Na certeza de um sonho acabado
É o circo de novo
Nós vivemos debaixo do pano
Entre espadas e rodas de fogo
Entre luzes e a dança das cores
Onde estão os atores
Pede a banda
Pra tocar um dobrado
Olha nós outra vez no picadeiro
Pede a banda
Prá tocar um dobrado
Vamos dançar mais uma vez
Somos todos iguais nesta noite
Pelo ensaio diário de um drama
Pelo medo da chuva e da lama
É o circo de novo
Nós vivemos debaixo do pano
Pelo truque malfeito dos magos
Pelo chicote dos domadores
E o rufar dos tambores
Qualquer música feita nos anos 70,geralmente é analisada sob viés político,não é o teu caso,afinal nem tudo era ditadura.
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