Para Roland Barthes, "a língua é fascista", por nos obrigar a usá-la por meios já previstos por ela mesma: as estruturas estão pré-determinadas e servem à função objetiva da língua.
Sem Deus (morto), ou quem sabe inspirados por ele, a metáfora (a figura) é uma forma que nós temos de tentar burlar a forma assertiva: se de fato pensamos por metáforas (comparações, associações...), isso aponta que as palavras não conseguem dizer o que queremos. Aliás, entre as palavras e as coisas que elas tentam encapsular há uma distância implícita (uma perda) que, talvez, só pela metáfora (palavra que envolve a coisa, sem querer definir a coisa) conseguimos roçar: o real.
E aqui retomamos a questão do real e da verdade. Como afirmar que algo existe se o que tenho como argumento é apenas meu pensamento sobre a existência de algo? Pensamos por metáforas, tendo em vista que o real é indizível? Eis um dos ganchos da poesia.
O poeta brinca com os significados pré-normatizados: desliza significantes e inverte signos a fim de presentificar (tornar presente) algo comum, porém, ressemantizado. Óbvio que não se trata apenas de ressemantização das coisas, mas fiquemos por aqui para não complicar e não termos tempo, nem espaço, para o desenvolvimento necessário.
O fato é que a similitude entre As palavras e as coisas (título de importante livro de Michel Foucault), dadas como prontas pela língua, que é fascista, é destronada pelo poeta. Uma das tarefas do poeta, portanto, é desviar (causar pane) a objetividade e a automatização diária.
Daí que, "na lata do poeta tudonada cabe, pois ao poeta cabe fazer com que na lata venha caber o incabível", como canta o sujeito de "Metáfora". Na bela e singela canção de Gilberto Gil (Um banda um, 1982) há a voz de um poeta fazendo autodefesa: ele tenta deixar claro que a meta do poeta é diferente da meta ordinária. A palavra, na poesia, é condensação e pulverização de sentidos.
"Metáfora" é metacanção, pois temos um poeta falando sobre a própria poesia: o fazer poético. Há, também, e desde modo, ligação direta com a metafísica (além da física), que investiga a essência das coisas, ao mesmo tempo em que a canção esvazia qualquer conteúdo pré-dado. Ao tentar responder o que é ser poeta e, de viés, o que é poesia, o sujeito da canção entra na roda das discussões sobre o "ser e não ser": da relação do indivíduo com o mundo.
Poeta, o sujeito da canção usa a metáfora como início, meio e fim para pensar sua atuação no mundo. Desmembrando e recompondo (em diferenças) a palavra metáfora, ele conclui que toda palavra mente, mas, talvez por isso mesmo, toda palavra incute crença (na verdade) em quem ouve: a palavra despoleta as verdades subjetivas, e vice versa.
E aqui retomamos a questão do real e da verdade. Como afirmar que algo existe se o que tenho como argumento é apenas meu pensamento sobre a existência de algo? Pensamos por metáforas, tendo em vista que o real é indizível? Eis um dos ganchos da poesia.
O poeta brinca com os significados pré-normatizados: desliza significantes e inverte signos a fim de presentificar (tornar presente) algo comum, porém, ressemantizado. Óbvio que não se trata apenas de ressemantização das coisas, mas fiquemos por aqui para não complicar e não termos tempo, nem espaço, para o desenvolvimento necessário.
O fato é que a similitude entre As palavras e as coisas (título de importante livro de Michel Foucault), dadas como prontas pela língua, que é fascista, é destronada pelo poeta. Uma das tarefas do poeta, portanto, é desviar (causar pane) a objetividade e a automatização diária.
Daí que, "na lata do poeta tudonada cabe, pois ao poeta cabe fazer com que na lata venha caber o incabível", como canta o sujeito de "Metáfora". Na bela e singela canção de Gilberto Gil (Um banda um, 1982) há a voz de um poeta fazendo autodefesa: ele tenta deixar claro que a meta do poeta é diferente da meta ordinária. A palavra, na poesia, é condensação e pulverização de sentidos.
"Metáfora" é metacanção, pois temos um poeta falando sobre a própria poesia: o fazer poético. Há, também, e desde modo, ligação direta com a metafísica (além da física), que investiga a essência das coisas, ao mesmo tempo em que a canção esvazia qualquer conteúdo pré-dado. Ao tentar responder o que é ser poeta e, de viés, o que é poesia, o sujeito da canção entra na roda das discussões sobre o "ser e não ser": da relação do indivíduo com o mundo.
Poeta, o sujeito da canção usa a metáfora como início, meio e fim para pensar sua atuação no mundo. Desmembrando e recompondo (em diferenças) a palavra metáfora, ele conclui que toda palavra mente, mas, talvez por isso mesmo, toda palavra incute crença (na verdade) em quem ouve: a palavra despoleta as verdades subjetivas, e vice versa.
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Metáfora
(Gilberto Gil)
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
(Gilberto Gil)
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
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