Pesquisar canções e/ou artistas

23 agosto 2010

235. Onde a dor não tem razão

Lançada no disco Paulinho da Viola (1981), "Onde a dor não tem razão", de Paulinho da Viola e Elton Medeiros, é, como a própria voz da canção aponta, o canto de felicidade: de superação. Há um sujeito glorificando a vida por ter conseguido afastar de seu coração a sombra da dor.
O samba festivo, com coro que ratifica o estado interno do sujeito, é bálsamo depois das pelejas no campo dos afetos. O sujeito conseguiu, ao que parece, vencer a si mesmo (suas limitações) e hoje ama - a vida. Ao invés de devotar-se a amores perdidos, ele encontrou a paz. Se antes, pela urgência e fracasso dos amores, a dor fazia guarida no seu coração, agora a dor não tem mais razão de ser e de estar.
Ou seja, a dor só tem razão na tristeza e o sujeito está alegre e pretendendo a felicidade: um canto que ele jamais cantou: o amor, de fato, e a felicidade, de direito.
Ao menos enquanto dura a alegria de descobrir um novo amor. Pois, na verdade, percebemos que o sujeito está amando: eis o motivo da alegria. Cego de amor (novo) ele renega os amores (frágeis) do passado acreditando na felicidade certa: a reabertura das janelas da vida. O mundo colorido de novo, de quando se ama.
O sujeito se auto elogia pelo fato de não ter perdido a esperança e por, agora, depois das dores de amor, saber cantar melhor a felicidade. Além disso o sujeito reafirma a ideia de que é impossível ser feliz sozinho. Olhando para trás, ele percebe que, apaixonando-se, viveu sempre sozinho. Agora ele quer ficar junto: dois na vida. Reafirmando as diferenças entre paixão e amor; alegria e felicidade.
Se antes o canto era de divisão e morte (de paixões fugazes), agora ele canta a multiplicação e a vida (de felicidade).
O canto é a afirmação da descoberta (do amor verdadeiro) e da certeza de dias melhores e mais felizes. A força desta descoberta é tão intensa e modificadora (arrebatadora) que o mundo canta junto: daí a presença do coro. Chega de espera (de espinhos cravados no peito), o amor chegou: é hora de exaltar a vida.


***

Onde a dor não tem razão
(Paulinho da Viola - Elton Medeiros)

Canto
Pra dizer que no meu coração
Já não mais se agitam as ondas de uma paixão
Ele não é mais abrigo de amores perdidos
É um lago mais tranqüilo
Onde a dor não tem razão
Nele a semente de um novo amor nasceu
Livre de todo rancor, em flor se abriu
Venho reabrir as janelas da vida
E cantar como jamais cantei
Esta felicidade ainda

Quem esperou, como eu, por um novo carinho
E viveu tão sozinho
Tem que agradecer
Quando consegue do peito tirar um espinho
É que a velha esperança
Já não pode morrer

Nenhum comentário: