Vira e mexe, a canção popular é palco para as questões existenciais. Vira e mexe, também, a canção recupera o comentário sobre seu contexto histórico. Em "A ordem das árvores", Tulipa Ruiz mescla os dois vértices e compõe o canto de um sujeito (em terceira pessoa) que observa o universo ao redor.
O sujeito moderno, descentrado, no mundo globalizado, tem consciência dos atravessamentos de saberes que não se fixam. Os questionamentos do ser e do estar, hoje, convergem para a certeza das incertezas: aquilo que escapa. Deste modo, são a suspensão do juízo e a permanência da dúvida que movem o pensamento.
O sujeito de "A ordem das árvores" (Efêmera, 2010) aponta, tenciona e canta as tênues fronteiras de cada coisa. Parte da observação (da natureza) para a conclusão de que "a ordem das árvores não altera o passarinho".
Ou seja, ao brincar com a sentença matemática que diz que "a ordem dos fatores não alteram o produto", o sujeito chama atenção para o fato de que não importa onde o indivíduo está, há algo que (implícito a ele) diz quem ele é. O sujeito sugere, assim, que o indivíduo faz o lugar.
Somos (representamos) citações, fragmentos e olhares alheios - "todo bem-te-vi carrega uma paineira"; trazemos em nós, no nosso mundo particular, a condensação do todo, universal.
Tal pensamento pode ser entendido, ainda, pelos versos do poeta barroco Gregório de Matos: "O todo sem a parte não é todo / a parte sem o todo não é parte". Somos, portanto, partes e todos, radicalmente imbricados.
A paisagem que o sujeito de "A ordem das árvores" desenha (canta) é, noutro plano feliz de compreensão, extensão dele: senão ele mesmo. Afinal, para citar outro poeta, como diz os versos de Octávio Paz: "me vejo no que vejo (...) me olha o que eu olho".
Criatura do que vê, o sujeito da canção cria o que vê a partir da própria certeza de ser, ele mesmo, a condensação de tudo o que está ao redor: "cada andorinha é lotada de pinheiro". As metáforas e metonímias rodam. E nós, ouvintes (atravessados pelos cantos) somos chamados para vislumbrar as observações do sujeito e, em contrapartida, mergulhar naquilo que nos constitui.
O sujeito de "A ordem das árvores" (Efêmera, 2010) aponta, tenciona e canta as tênues fronteiras de cada coisa. Parte da observação (da natureza) para a conclusão de que "a ordem das árvores não altera o passarinho".
Ou seja, ao brincar com a sentença matemática que diz que "a ordem dos fatores não alteram o produto", o sujeito chama atenção para o fato de que não importa onde o indivíduo está, há algo que (implícito a ele) diz quem ele é. O sujeito sugere, assim, que o indivíduo faz o lugar.
Somos (representamos) citações, fragmentos e olhares alheios - "todo bem-te-vi carrega uma paineira"; trazemos em nós, no nosso mundo particular, a condensação do todo, universal.
Tal pensamento pode ser entendido, ainda, pelos versos do poeta barroco Gregório de Matos: "O todo sem a parte não é todo / a parte sem o todo não é parte". Somos, portanto, partes e todos, radicalmente imbricados.
A paisagem que o sujeito de "A ordem das árvores" desenha (canta) é, noutro plano feliz de compreensão, extensão dele: senão ele mesmo. Afinal, para citar outro poeta, como diz os versos de Octávio Paz: "me vejo no que vejo (...) me olha o que eu olho".
Criatura do que vê, o sujeito da canção cria o que vê a partir da própria certeza de ser, ele mesmo, a condensação de tudo o que está ao redor: "cada andorinha é lotada de pinheiro". As metáforas e metonímias rodam. E nós, ouvintes (atravessados pelos cantos) somos chamados para vislumbrar as observações do sujeito e, em contrapartida, mergulhar naquilo que nos constitui.
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A ordem das árvores
(Tulipa Ruiz)
Naquele curió mora um pessegueiro
Em todo rouxinol tem sempre um jasmineiro
Todo bem-te-vi carrega uma paineira
Tem sempre um colibri que gosta de jatobá
Beija-flor é casa de ipê
Cada andorinha é lotada de pinheiro
e o joão-de-barro adora o eucalipto
A ordem das árvores não altera o passarinho
Naquele pessegueiro mora um curió
Em todo jasmineiro tem sempre um rouxinol
Toda paineira carrega um bem-te-vi
Tem sempre um jatobá que gosta de colibri
Beija-flor é casa de ipê
Cada pinheiro é lotado de andorinha
e o joão-de-barro adora o eucalipto
A ordem das árvores não altera o passarinho
A ordem das árvores
(Tulipa Ruiz)
Naquele curió mora um pessegueiro
Em todo rouxinol tem sempre um jasmineiro
Todo bem-te-vi carrega uma paineira
Tem sempre um colibri que gosta de jatobá
Beija-flor é casa de ipê
Cada andorinha é lotada de pinheiro
e o joão-de-barro adora o eucalipto
A ordem das árvores não altera o passarinho
Naquele pessegueiro mora um curió
Em todo jasmineiro tem sempre um rouxinol
Toda paineira carrega um bem-te-vi
Tem sempre um jatobá que gosta de colibri
Beija-flor é casa de ipê
Cada pinheiro é lotado de andorinha
e o joão-de-barro adora o eucalipto
A ordem das árvores não altera o passarinho
Um comentário:
muito bom, Leonardo!
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