Definitivamente, "Dois pra lá, dois pra cá", de João Bosco e Aldir Blanc, é uma das nossas canções mais sensuais. Tudo aqui é usado a fim de figurativizar a arte de amar tropical: latina, quente e de pele melada de suor e turquesa.
O sujeito da canção não se contenta apenas em contar a dança: ele inventa palcos cenários e dança enquanto canta. Ele que sabe quase nada de amar dança ao comando da voz que lhe acalma murmurando "são dois pra lá, dois pra cá".
Aliás, a referência a esta voz aparece na primeira e na derradeira estrofes, como que delimitando o domínio da voz sobre o sujeito: ele é todo dela; e ele segue a voz de seu dono. E "o coração traiçoeiro batia mais que um bongô, tremia mais que as maracas, descompassado de amor", diz. Importa apontar aqui, a retomada da imagem do coração como traidor (e, de viés, um bocado cúmplice) do sujeito.
O bolero, com sua passionalidade e caliência típicas, ajuda a despertar os sentidos: há uma sensação avassaladora de sensualidade absoluta e longe dos juízos. Mesmo rodeados por outros casais, os parceiros evoluem em uma dança singular e que faz derreter (camisa colada à pele) as certezas do sujeito totalmente entregue: embriagado de uísque e de perfumes.
O "dois pra lá, dois pra cá" do casal, vale ressaltar, está marcado na estrutura da letra: há uma busca pela rima ABAB que indicia o próprio movimento alternado e emparelhado dos amantes bailando. Óbvio, entorpecido, o sujeito "erra" o passo, "errando" também as rimas.
A voz preenche as noites vazias e dispara o movimento do sujeito da canção: ouvimos uma voz que canta (filtra) outra voz, ou melhor, ouvimos aquilo que a outra voz desperta: desejo, luxúria e gozo. A voz de Elis Regina (Elis, 1974) é a perfeita tradução para tudo isso: cool e kitsch. Tato, olfato, paladar, visão e audição acesos disparam o canto: o sexto sentido.
O sujeito é todo pulsão que dança enquanto o mundo ao redor lateja; enquanto tudo parece derreter. A pintura de si - "No dedo um falso brilhante, brincos iguais ao colar e a ponta de um torturante band-aid no calcanhar" - é uma das mais comoventes figuras da condensação entre o tormento e a experiência do calor erótico. Sem queixas, mas já com alguma consciência-de-si, o sujeito se enfeita para decorar o prazer sem nuvens.
Aliás, a referência a esta voz aparece na primeira e na derradeira estrofes, como que delimitando o domínio da voz sobre o sujeito: ele é todo dela; e ele segue a voz de seu dono. E "o coração traiçoeiro batia mais que um bongô, tremia mais que as maracas, descompassado de amor", diz. Importa apontar aqui, a retomada da imagem do coração como traidor (e, de viés, um bocado cúmplice) do sujeito.
O bolero, com sua passionalidade e caliência típicas, ajuda a despertar os sentidos: há uma sensação avassaladora de sensualidade absoluta e longe dos juízos. Mesmo rodeados por outros casais, os parceiros evoluem em uma dança singular e que faz derreter (camisa colada à pele) as certezas do sujeito totalmente entregue: embriagado de uísque e de perfumes.
O "dois pra lá, dois pra cá" do casal, vale ressaltar, está marcado na estrutura da letra: há uma busca pela rima ABAB que indicia o próprio movimento alternado e emparelhado dos amantes bailando. Óbvio, entorpecido, o sujeito "erra" o passo, "errando" também as rimas.
A voz preenche as noites vazias e dispara o movimento do sujeito da canção: ouvimos uma voz que canta (filtra) outra voz, ou melhor, ouvimos aquilo que a outra voz desperta: desejo, luxúria e gozo. A voz de Elis Regina (Elis, 1974) é a perfeita tradução para tudo isso: cool e kitsch. Tato, olfato, paladar, visão e audição acesos disparam o canto: o sexto sentido.
O sujeito é todo pulsão que dança enquanto o mundo ao redor lateja; enquanto tudo parece derreter. A pintura de si - "No dedo um falso brilhante, brincos iguais ao colar e a ponta de um torturante band-aid no calcanhar" - é uma das mais comoventes figuras da condensação entre o tormento e a experiência do calor erótico. Sem queixas, mas já com alguma consciência-de-si, o sujeito se enfeita para decorar o prazer sem nuvens.
***
Dois par lá, dois pra cá
(João Bosco / Aldir Blanc)
Sentindo frio em minh'alma
te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
são dois pra lá, dois pra cá
Meu coração traiçoeiro
batia mais que um bongô
tremia mais que as maracas
descompassado de amor
Minha cabeça rodando
rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
e não me pergunte mais
A tua mão no pescoço
as tuas costas macias
por quanto tempo rondaram
as minhas noites vazias
No dedo um falso brilhante
brincos iguais ao colar
e a ponta de um torturante
band-aid no calcanhar
Eu hoje me embrigando
de uísque com guaraná
ouvi tua voz murmurando
são dois pra lá, dois pra cá
(João Bosco / Aldir Blanc)
Sentindo frio em minh'alma
te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
são dois pra lá, dois pra cá
Meu coração traiçoeiro
batia mais que um bongô
tremia mais que as maracas
descompassado de amor
Minha cabeça rodando
rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
e não me pergunte mais
A tua mão no pescoço
as tuas costas macias
por quanto tempo rondaram
as minhas noites vazias
No dedo um falso brilhante
brincos iguais ao colar
e a ponta de um torturante
band-aid no calcanhar
Eu hoje me embrigando
de uísque com guaraná
ouvi tua voz murmurando
são dois pra lá, dois pra cá
Se a perfeição existe ,é Elis cantando joão bosco e aldir blanc.
ResponderExcluirA letra é quase uma overdose insuportável de cafonice repugnante, se não fosse genial.O avesso de Waldick Soriano. Já a voz das cantoras nem sempre são registradas em um bom dia, saindo gritada ou estranha. Aqui, no caso, Elis estava como quase sempre no seu máximo. O timbre, afinação, textura da voz, emoção....como era talentosa!Aldir Blanc genial. Descanse em paz grande compositor, que levou arte brasileira a um novo patamar junto com seus pares. Que sirva de exemplo à miséria artística de hoje.
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