Os versos "o meu olhar vai dar uma festa, amor, na hora que você chegar" são uns dos mais belos da canção popular. A condensação de singelos (e ingênuos) sentidos em tão poucas palavras é arrebatadora - potência de uma simplicidade complexa e de difícil alcance. O ouvinte cria a expectativa de tal acontecimento; imagina-o; e, portanto, plasma-o dentro de si.
O interessante é que, humilde, o sujeito diz a certa altura da canção: "Eu não encontro uma palavra para te dizer. Ah, se eu fosse você eu voltava pra mim de novo". Ou seja, ele diz sem esforço (sem querer querendo), com a sofisticação rural que os afetos exigem, aquilo que a razão urbana não consegue lhe ajudar. Eis o êxito da canção: ela é só para dizer e diz: "nos amamos, volta pra mim, volta para ti".
Gostoso forró, imortalizado na voz de Flávio José, "Espumas as vento", de Accioly Neto, é um pedido de perdão; de reconciliação; e de afirmação do desejo pegando fogo. Direto, o sujeito assume seus erros e roga a volta do outro. Discípulo daquele tipo de amor que "deixa marcas que não dá pra apagar", o sujeito sabe que também ainda mexe com o juízo do outro e seu investimento é todo voltado para a persuasão do outro; ou melhor, para despertar no outro aquilo que o sofrimento (mágoa) parece ter feito adormecer.
É nisso que Elza Soares investe. Incorporando uma diva de filme noir, Elza Soares criou uma das mais comoventes interpretações que esta canção poderia ter. Do forró ao underground. A dicção carregada de vocalizações jazzísticas atravessa a mensagem da canção, contamina a melodia e corta o coração de quem ouve.
Se "o amor é filme e Deus espectador", como canta o sujeito de "O amor é filme", de João Falcão e André Moraes, nós, ouvintes, somos voyeurs e cúmplices do sujeito da canção "Espumas ao vento": somos atravessados pelo lirismo de sua dor, mas queremos mais.
Na versão de Elza, registrada na trilha sonora do filme Lisbela e o prisioneiro (2003), o sofrimento do sujeito é ampliado ao extremo: estilhaços de estrelas e tempestades solares cobrem o canto. A volumosa melodia reiterativa aperta os nós da garganta: "cabeça doida, coração na mão". E só quando afirma o desejo da volta é que o sujeito se permite respirar.
O desejo vem acompanhado por um grito (quase) infinito de desespero e volúpia que chama à consumação; ao encontro: o sujeito é porta aberta minando vontades. Com Elza ele é todo paixão: prisioneiro daquilo que "não é coisa de momento": mas que pega, mata e come.
Gostoso forró, imortalizado na voz de Flávio José, "Espumas as vento", de Accioly Neto, é um pedido de perdão; de reconciliação; e de afirmação do desejo pegando fogo. Direto, o sujeito assume seus erros e roga a volta do outro. Discípulo daquele tipo de amor que "deixa marcas que não dá pra apagar", o sujeito sabe que também ainda mexe com o juízo do outro e seu investimento é todo voltado para a persuasão do outro; ou melhor, para despertar no outro aquilo que o sofrimento (mágoa) parece ter feito adormecer.
É nisso que Elza Soares investe. Incorporando uma diva de filme noir, Elza Soares criou uma das mais comoventes interpretações que esta canção poderia ter. Do forró ao underground. A dicção carregada de vocalizações jazzísticas atravessa a mensagem da canção, contamina a melodia e corta o coração de quem ouve.
Se "o amor é filme e Deus espectador", como canta o sujeito de "O amor é filme", de João Falcão e André Moraes, nós, ouvintes, somos voyeurs e cúmplices do sujeito da canção "Espumas ao vento": somos atravessados pelo lirismo de sua dor, mas queremos mais.
Na versão de Elza, registrada na trilha sonora do filme Lisbela e o prisioneiro (2003), o sofrimento do sujeito é ampliado ao extremo: estilhaços de estrelas e tempestades solares cobrem o canto. A volumosa melodia reiterativa aperta os nós da garganta: "cabeça doida, coração na mão". E só quando afirma o desejo da volta é que o sujeito se permite respirar.
O desejo vem acompanhado por um grito (quase) infinito de desespero e volúpia que chama à consumação; ao encontro: o sujeito é porta aberta minando vontades. Com Elza ele é todo paixão: prisioneiro daquilo que "não é coisa de momento": mas que pega, mata e come.
***
Espumas ao vento
(Accioly Neto)
Sei que aí dentro ainda mora
um pedaço de mim
um grande amor não se acaba assim
feito espumas ao vento
Não é coisa de momento, raiva passageira
Mania que dá e passa feito brincadeira
O amor deixa marcas
que não dá pra apagar
Sei que errei e estou aqui pra lhe pedir perdão
cabeça doida, coração na mão
desejo pegando fogo
Sem saber direito a hora e o que fazer
Eu não encontro uma palavra para te dizer
Ah, se eu fosse você eu voltava pra mim de novo
De uma coisa fique certa, amor
a porta vai estar sempre aberta, amor
o meu olhar vai dar uma festa, amor
na hora que você chegar
(Accioly Neto)
Sei que aí dentro ainda mora
um pedaço de mim
um grande amor não se acaba assim
feito espumas ao vento
Não é coisa de momento, raiva passageira
Mania que dá e passa feito brincadeira
O amor deixa marcas
que não dá pra apagar
Sei que errei e estou aqui pra lhe pedir perdão
cabeça doida, coração na mão
desejo pegando fogo
Sem saber direito a hora e o que fazer
Eu não encontro uma palavra para te dizer
Ah, se eu fosse você eu voltava pra mim de novo
De uma coisa fique certa, amor
a porta vai estar sempre aberta, amor
o meu olhar vai dar uma festa, amor
na hora que você chegar
linda musica, adorei seus comentarios. Só fica mais interessantes cada vez que eu ouço na voz da Mariana Aydar
ResponderExcluirPermita responder à pergunta: "O que quer dizer Espumas ao vento". No contexto, é algo que se dissipa e desaparece. Um grande amor não pode desaparecer da mesma forma, não é?
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