Por aqui, a canção é a América Latina em espelho. A história da canção nos mostra que sempre se orientou pelo resgate do conflito humano. E a profusão de temas românticos também é sintoma disso: de uma busca alucinada por identidades. Cantar é resistir à precariedade e à exuberância.
Resistir não no sentido de negar ou evitar, mas nas melhores definições do termo: não ceder, durar e conservar-se. Gesto comum e cotidiano na América Latina, na América que não escreve romance, escreve conto; não faz história, faz ensaio: inventa uma tradição e forja um passado.
Portanto, se todas as vezes que eu me confesso eu me inscrevo ficcionalmente, já que falar de mim exige certo anseio ficcional, o sujeito da canção "Resistiré", de Carlos Toro e Manuel de La Calva, é símbolo do indivíduo latino-americano.
Sucesso na interpretação ímpar do Dúo Dinámico, ancorada na esteira temática da não menos famosa "I will survive", "Resistiré" é daquelas canções que poderiam ter sido compostas por um brasileiro. Não foi, mas diz muito de nossa cultura e de nosso povo.
Em atitude iluminada e luminosa, Adriana Calcanhotto interpretou "Resistiré" para o programa Continuarà da TVE e Catalunya, em novembro de 2007. O vídeo pode ser facilmente encontrado no youtube. Voz e violão, meio bossa nova meio pop, Adriana tomou a canção para si e imprimiu a tropicalidade brasileira devida.
A cantora faz um diálogo amoroso com as canções de língua espanhola, tendo "Resistiré" como grande coroa. Só para anotar, basta andar pelas lojas de discos de Buenos Aires para perceber o quanto nossos hermanos consomem nossa canção, mas a recíproca não é verdadeira. Ao cantar "Resistiré", gesto simples, Adriana complexifica a questão.
Resistir é sair do campo de classificação. Eis o que o sujeito da canção deixa minar. Resistir é seguir cantando: preenchendo as lacunas que a vida ordinária não dá conta; é mover-se; é brincar com a memória (dispositivo falido de sustentação da identidade); é seguir "erguido frente a todo", mas com a flexibilidade do bambú.
Cantar é resistir; é deixar o corpo (individual e coletivo: nações) ficar odara. Cantar é dizer que sobrevivemos porque não podemos explicar-nos. Cantar e resistir é ser latino-americano, ou seja, é perspectivizar e equacionar a tomada de consciência social pela via da alegria.
Por tudo isso, "Resistiré", que encontrou novos ouvidos depois que ajudou a compor a trilha do filme Ata-me, de Pedro Almodóvar, na gravação original dos anos 1960 do Dúo Dionámico, é tradução da América Latina e de seu povo desassossegado, inquieto, que canta e é feliz criando artifícios para cantar.
Portanto, se todas as vezes que eu me confesso eu me inscrevo ficcionalmente, já que falar de mim exige certo anseio ficcional, o sujeito da canção "Resistiré", de Carlos Toro e Manuel de La Calva, é símbolo do indivíduo latino-americano.
Sucesso na interpretação ímpar do Dúo Dinámico, ancorada na esteira temática da não menos famosa "I will survive", "Resistiré" é daquelas canções que poderiam ter sido compostas por um brasileiro. Não foi, mas diz muito de nossa cultura e de nosso povo.
Em atitude iluminada e luminosa, Adriana Calcanhotto interpretou "Resistiré" para o programa Continuarà da TVE e Catalunya, em novembro de 2007. O vídeo pode ser facilmente encontrado no youtube. Voz e violão, meio bossa nova meio pop, Adriana tomou a canção para si e imprimiu a tropicalidade brasileira devida.
A cantora faz um diálogo amoroso com as canções de língua espanhola, tendo "Resistiré" como grande coroa. Só para anotar, basta andar pelas lojas de discos de Buenos Aires para perceber o quanto nossos hermanos consomem nossa canção, mas a recíproca não é verdadeira. Ao cantar "Resistiré", gesto simples, Adriana complexifica a questão.
Resistir é sair do campo de classificação. Eis o que o sujeito da canção deixa minar. Resistir é seguir cantando: preenchendo as lacunas que a vida ordinária não dá conta; é mover-se; é brincar com a memória (dispositivo falido de sustentação da identidade); é seguir "erguido frente a todo", mas com a flexibilidade do bambú.
Cantar é resistir; é deixar o corpo (individual e coletivo: nações) ficar odara. Cantar é dizer que sobrevivemos porque não podemos explicar-nos. Cantar e resistir é ser latino-americano, ou seja, é perspectivizar e equacionar a tomada de consciência social pela via da alegria.
Por tudo isso, "Resistiré", que encontrou novos ouvidos depois que ajudou a compor a trilha do filme Ata-me, de Pedro Almodóvar, na gravação original dos anos 1960 do Dúo Dionámico, é tradução da América Latina e de seu povo desassossegado, inquieto, que canta e é feliz criando artifícios para cantar.
***
Resistiré
(Carlos Toro / Manuel de La Calva)
Cuando pierda todas las partidas
Cuando duerma con la soledad
Cuando se me cierren las salidas
Y la noche no me deje en paz
Cuando sienta miedo del silencio
Cuando cueste mantenerse en pie
Cuando se rebelen los recuerdos
Y me pongan contra la pared
Resistiré, erguido frente a todo
Me volveré de hierro para endurecer la piel
Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
Soy como el junco que se dobla,
Pero siempre sigue en pie
Resistiré, para seguir viviendo
Soportaré los golpes y jamás me rendiré
Y aunque los sueños se me rompan en pedazos
Resistiré, resistiré
Cuando el mundo pierda toda magia
Cuando mi enemigo sea yo
Cuando me apuñale la nostalgia
Y no reconozca ni mi voz
Cuando me amenace la locura
Cuando en mi moneda salga cruz
Cuando el diablo pase la factura
O si alguna vez me faltas tu.
Resistiré, erguido frente a todo
Me volveré de hierro para endurecer la piel
Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
soy como el junco que se dobla
pero siempre sigue en pié.
Resistiré, para seguir viviendo
Soportaré los golpes y jamas me rendiré
Y aunque los sueños se me rompan en pedazos
Resistiré, Resistiré
(Carlos Toro / Manuel de La Calva)
Cuando pierda todas las partidas
Cuando duerma con la soledad
Cuando se me cierren las salidas
Y la noche no me deje en paz
Cuando sienta miedo del silencio
Cuando cueste mantenerse en pie
Cuando se rebelen los recuerdos
Y me pongan contra la pared
Resistiré, erguido frente a todo
Me volveré de hierro para endurecer la piel
Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
Soy como el junco que se dobla,
Pero siempre sigue en pie
Resistiré, para seguir viviendo
Soportaré los golpes y jamás me rendiré
Y aunque los sueños se me rompan en pedazos
Resistiré, resistiré
Cuando el mundo pierda toda magia
Cuando mi enemigo sea yo
Cuando me apuñale la nostalgia
Y no reconozca ni mi voz
Cuando me amenace la locura
Cuando en mi moneda salga cruz
Cuando el diablo pase la factura
O si alguna vez me faltas tu.
Resistiré, erguido frente a todo
Me volveré de hierro para endurecer la piel
Y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
soy como el junco que se dobla
pero siempre sigue en pié.
Resistiré, para seguir viviendo
Soportaré los golpes y jamas me rendiré
Y aunque los sueños se me rompan en pedazos
Resistiré, Resistiré
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