"Doce sereia", de João Bosco e Francisco Bosco, é uma das mais belas declarações de amor àquele ser que canta a vida; situa o indivíduo no mundo; abre possibilidades de significação diante do absurdo da existência.
Lançada no disco Na esquina (2000), a canção, que já mereceu outro belo registro de Joyce e Quarteto Maogani (no Songbook de João Bosbo), oferece-nos um sujeito que tenciona o orgânico e o onírico: borra as fronteiras entre real (pele; tato; e voz) e ficcional (sonho; delírio; e voz). A voz como elo: ponte que vai de um para o outro. Seria uma sereia ou seria só delírio tropical?
A sereia deste sujeito é rainha do mar, mas também é dona da voz que canta, afinal é por ela que a voz vaza e pulsa. Moça bonita, ela é a força que nunca seca dentro dele. Ela arrasta o sujeito para os mergulhos necessários e urgentes ao (des)conhecido.
A sereia é a sem nome e sem rosto (mil (dis)fa(r)ces) a machucar os sentidos do sujeito. É quando ela brinca na areia (samba qual passista, cinturinha de pilão, na gira) que o desassossego atravessa o sujeito; é quando ele se mira: olha o espelho e vê ninguém. Mas é aí, perdido neste lugar sem antes nem depois, que ele se acha: vê a face luminosa do amor.
Os versos "Boca que beija sem os lábios. Teus olhos fechados olham pra mim" dão a dimensão da potência criativa do sujeito quando este investe na composição da materialidade de sua imaginação: a sereia é som e silêncio; luz e sombra.
O gesto de cantar a sereia (ser cantante) torna o sujeito, de viés, sereia da sereia e sereia de si. Ao dialogar (amorosamente) com ela, o sujeito traz a própria vida na voz. Estabelecendo esse diálogo o sujeito sustenta o canto dela: canto que é necessário à vida dele. "Vamos juntos nadar na maré cheia. Quem não morre no mar morre na areia", diz.
As personagens (qual passistas) bailam na avenida ao ritmo do enredo que o sujeito compõe e canta. Braços dados com a vida, ele percebe que o mundo é bem pequeno (só dos dois amantes) quando se prova do sal dos lábios da sereia que acende as constelações da paixão, de manhã.
A sereia deste sujeito é rainha do mar, mas também é dona da voz que canta, afinal é por ela que a voz vaza e pulsa. Moça bonita, ela é a força que nunca seca dentro dele. Ela arrasta o sujeito para os mergulhos necessários e urgentes ao (des)conhecido.
A sereia é a sem nome e sem rosto (mil (dis)fa(r)ces) a machucar os sentidos do sujeito. É quando ela brinca na areia (samba qual passista, cinturinha de pilão, na gira) que o desassossego atravessa o sujeito; é quando ele se mira: olha o espelho e vê ninguém. Mas é aí, perdido neste lugar sem antes nem depois, que ele se acha: vê a face luminosa do amor.
Os versos "Boca que beija sem os lábios. Teus olhos fechados olham pra mim" dão a dimensão da potência criativa do sujeito quando este investe na composição da materialidade de sua imaginação: a sereia é som e silêncio; luz e sombra.
O gesto de cantar a sereia (ser cantante) torna o sujeito, de viés, sereia da sereia e sereia de si. Ao dialogar (amorosamente) com ela, o sujeito traz a própria vida na voz. Estabelecendo esse diálogo o sujeito sustenta o canto dela: canto que é necessário à vida dele. "Vamos juntos nadar na maré cheia. Quem não morre no mar morre na areia", diz.
As personagens (qual passistas) bailam na avenida ao ritmo do enredo que o sujeito compõe e canta. Braços dados com a vida, ele percebe que o mundo é bem pequeno (só dos dois amantes) quando se prova do sal dos lábios da sereia que acende as constelações da paixão, de manhã.
***
Doce sereia
(João Bosco / Francisco Bosco)
Falo de ti
Dama que nunca se viu
Nunca o teu nome
Alguém já repetiu
Fada ou sereia
Em mil carnavais
Ela jamais
A mesma máscara vestiu
Falo de ti
Sempre passeias aqui
No calçadão
Da praia de Aparição
Deusa de areia
Quem nunca te viu
No branco mar
Que a tua imagem refletiu
Ô, beleza
Por que sambar assim?
Sem repetir nem
Um só passo
Sem chão
Num compasso sem tempo
Sem ter um fim
Ô, beleza
Por que te amar assim?
Boca que beija
Sem os lábios
Teus olhos fechados
Olham pra mim
Pra te encontrar
Quanto terei que andar
Quanto sofrer
Quanto saber
Que você não virá
Pra te deixar
A quem dizer adeus?
A minha voz
Repetirá os gritos meus
Quero te ouvir cantar
Doce sereia
Vou me deixar levar
Por amor
Vamos juntos nadar
Na maré cheia
Quem não morre no mar
Morre na areia
Vênus, Iemanjá
Que rosto esconderá
O véu dos nomes que tentam dizer
O que não se pode ver, não
Vamos viver nós dois
Sem antes nem depois
Pingos de chuva entre a nuvem e o chão
Esse é o nosso enredo
O que eu quero é sambar
Venha ser o meu par
Eu peguei tua mão
Pra nunca largar
Pra nunca largar
(João Bosco / Francisco Bosco)
Falo de ti
Dama que nunca se viu
Nunca o teu nome
Alguém já repetiu
Fada ou sereia
Em mil carnavais
Ela jamais
A mesma máscara vestiu
Falo de ti
Sempre passeias aqui
No calçadão
Da praia de Aparição
Deusa de areia
Quem nunca te viu
No branco mar
Que a tua imagem refletiu
Ô, beleza
Por que sambar assim?
Sem repetir nem
Um só passo
Sem chão
Num compasso sem tempo
Sem ter um fim
Ô, beleza
Por que te amar assim?
Boca que beija
Sem os lábios
Teus olhos fechados
Olham pra mim
Pra te encontrar
Quanto terei que andar
Quanto sofrer
Quanto saber
Que você não virá
Pra te deixar
A quem dizer adeus?
A minha voz
Repetirá os gritos meus
Quero te ouvir cantar
Doce sereia
Vou me deixar levar
Por amor
Vamos juntos nadar
Na maré cheia
Quem não morre no mar
Morre na areia
Vênus, Iemanjá
Que rosto esconderá
O véu dos nomes que tentam dizer
O que não se pode ver, não
Vamos viver nós dois
Sem antes nem depois
Pingos de chuva entre a nuvem e o chão
Esse é o nosso enredo
O que eu quero é sambar
Venha ser o meu par
Eu peguei tua mão
Pra nunca largar
Pra nunca largar
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