"Nosso samba tem feitiço, tem farofa, tem vela e tem vintém e tem também guitarra de rock'n'roll, batuque de candomblé", diz o sujeito da canção "Feitiço", de Caetano Veloso.
O samba complexifica nossa mistura de raças; nossa hibridação; ilumina democracias. O problema é que nem todos aceitam isso. Afeitos à segmentação aos moldes norte americanos, indivíduos como a Madame da letra de "Pra que discutir com Madame", de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, hostilizam nossa diversidade, em favor de uma cultura pura, inexistente por aqui.
Tais pessoas se assemelham ao público representado no filme Le Sang D'un Poète, de Jean Cocteau: um tipo de elite cheia-de-si e de distanciamentos; que exulta e aplaude apenas quando o poeta que sangra e agoniza na derradeira cena.
Seja como for, a tal madame da canção já foi identificada como sendo a crítica Magdala da Gama de Oliveira (a Mag), pelo modo que ela imprimia suas observações contra o samba então se alastrando e se firmando na cultura: signo e símbolo das culturas daqui.
Admitir isso, pensa a madame, seria afirmar (que vexame) nosso lado "atrasado" e "primitivo" : assumir histórias que precisam ser silenciadas; senão "a raça não melhora".
É interessante perceber que, de certo modo, com sua levada cool, João Gilberto (Eu sei que vou te amar, 1994) sofistica o samba a tal ponto que o ritmo passa a ser aceito por madames e afins.
Parece que ao perder sua corporeidade, sua dança de corpos moldados em barracos e botequins, o samba agrada. Mas essa é uma discussão complexa e longa.
Com sua origem africana e popular, o samba convida à mistura, algo impensável para alguns conservadores. O sujeito da canção aponta isso e pensa até em acabar com o samba. Pra que discutir com madame? É ela quem dá as cartas e as coordenadas de um mundo melhor, não cabe ao sambista ir contra isso.
Sendo assim, "No carnaval que vem também com o povo meu bloco de morro vai cantar ópera e na avenida entre mil apertos vocês vão ver gente cantando concerto".
Tais pessoas se assemelham ao público representado no filme Le Sang D'un Poète, de Jean Cocteau: um tipo de elite cheia-de-si e de distanciamentos; que exulta e aplaude apenas quando o poeta que sangra e agoniza na derradeira cena.
Seja como for, a tal madame da canção já foi identificada como sendo a crítica Magdala da Gama de Oliveira (a Mag), pelo modo que ela imprimia suas observações contra o samba então se alastrando e se firmando na cultura: signo e símbolo das culturas daqui.
Admitir isso, pensa a madame, seria afirmar (que vexame) nosso lado "atrasado" e "primitivo" : assumir histórias que precisam ser silenciadas; senão "a raça não melhora".
É interessante perceber que, de certo modo, com sua levada cool, João Gilberto (Eu sei que vou te amar, 1994) sofistica o samba a tal ponto que o ritmo passa a ser aceito por madames e afins.
Parece que ao perder sua corporeidade, sua dança de corpos moldados em barracos e botequins, o samba agrada. Mas essa é uma discussão complexa e longa.
Com sua origem africana e popular, o samba convida à mistura, algo impensável para alguns conservadores. O sujeito da canção aponta isso e pensa até em acabar com o samba. Pra que discutir com madame? É ela quem dá as cartas e as coordenadas de um mundo melhor, não cabe ao sambista ir contra isso.
Sendo assim, "No carnaval que vem também com o povo meu bloco de morro vai cantar ópera e na avenida entre mil apertos vocês vão ver gente cantando concerto".
***
Pra que discutir com Madame
(Haroldo Barbosa)
Madame diz que a raça não melhora
Que a vida piora
Por causa do samba
Madame diz que o samba tem pecado
Que o samba é coitado
Devia acabar
Madame diz que o samba tem cachaça
Mistura de raça, mistura de dor
Madame diz que o samba é democrata
É música barata
Sem nenhum valor
Vamos acabar com o samba
Madame não gosta que ninguém sambe
Vive dizendo que o samba é vexame
Pra que discutir com Madame
No carnaval que vem também com o povo
Meu bloco de morro vai cantar ópera
E na avenida entre mil apertos
Vocês vão ver gente cantando concerto
Madame tem um parafuso a menos
Só fala veneno
Meu Deus que horror
O samba brasileiro, democrata
Brasileiro na batata é que tem valor
(Haroldo Barbosa)
Madame diz que a raça não melhora
Que a vida piora
Por causa do samba
Madame diz que o samba tem pecado
Que o samba é coitado
Devia acabar
Madame diz que o samba tem cachaça
Mistura de raça, mistura de dor
Madame diz que o samba é democrata
É música barata
Sem nenhum valor
Vamos acabar com o samba
Madame não gosta que ninguém sambe
Vive dizendo que o samba é vexame
Pra que discutir com Madame
No carnaval que vem também com o povo
Meu bloco de morro vai cantar ópera
E na avenida entre mil apertos
Vocês vão ver gente cantando concerto
Madame tem um parafuso a menos
Só fala veneno
Meu Deus que horror
O samba brasileiro, democrata
Brasileiro na batata é que tem valor
2 comentários:
Es genial ver un show de samba en Lapa o en cualquier botiquim e identificar gente de diferentes clases sociales, diferentes razas, diferentes nacionalidades, disfrutando, cantando, bailando, compartiendo una "geladinha". El samba une a la gente.La musica, el arte, la cultura popular nunca debería separar excepto cuando hay intereses particulares. Felicidades, me gusta mucho este blog!!!! Desde Buenos Aires.Nestor
Muito bacana o seu blog.
Quero me especializar em cultura também.Sou estudante de jornalismo e já comecei minhas pesquisas na área da msical. Gostei do seu trabalho. Tens um email para eu poder entrar em contato contigo?
Grata desde já
Daniela - www.orquestracultural.blogspot.com
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