Joyce começou sua carreira num tempo em que a mulher cantava aquilo que os homens compunham para elas cantar. Incomodada, ela passou a traduzir em canções delicadezas e filigranas do feminino.
Com a vontade de dizer o que é ser feminina por todo lugar, com o corpo todo, sem os entraves da normatividade do macho adulto no comando, a obra de Joyce é atravessada pela afirmação de uma vida íntima e apaixonada.
Acompanhada pelo violão, ela mostrou que "o buraco é mais em cima": na voz, na média entre aquilo que dá voltas por dentro e aquilo que afeta e queima a pele da mulher. Deste modo, Joyce abriu, na esteira de outras poucas cancionistas que lhe antecederam, com aparição bem pontual, caminho para a profusão de compositoras que, com o canto de um sujeito feminino na canção, não param de surgir.
Do disco Joyce (1968), o primeiro da cancionista, "Me disseram", de Joyce, é a revelação das intrigas que perturbam a voz da canção. A ousadia da expressão "meu homem" merece destaque, em uma época em que era a mulher que "era" do homem, e não o contrário.
A ousadia se prolonga quando a mulher, de modo todo natural, sem grilos e, portanto, revolucionário, espalha (para nós: ouvintes) as fraquezas do homem: se a fama dele é de boêmio e de fazer mulher chorar, "só eu sei que ele gosta de carinho, que não quer ficar sozinho, que tem medo de se dar".
Ora, educada na arte de "se dar", a mulher voz da canção, de viés, questiona os parâmetros que regulam a fragilidade dos seres: ele, que no fundo é criança, precisa dela para cantá-lo. É no corpo dela que ele encontra a paz infinita e o caminho mais certo.
Há um jogo amoroso de deslizamento do poder. O senhor vira escravo, e vice-versa. Ela destrona a fama de (lobo) mau, do seu homem, apontando a força que exerce sobre o pensamento dele: que transparece autosuficiência (nasceu com canção dentro do peito), não precisa do canto alheio.
Porém, o mais revelador vem nos derradeiros versos, quando a mulher, sem rancor ou falso instinto de superioridade, imbrica ao desejo do homem o seu próprio desejo: preservando um segredo só dos dois, algo que se equaliza na intimidade dos corpos, quando os dois, juntos, continuam a viagem onde tudo lhes fascina.
Acompanhada pelo violão, ela mostrou que "o buraco é mais em cima": na voz, na média entre aquilo que dá voltas por dentro e aquilo que afeta e queima a pele da mulher. Deste modo, Joyce abriu, na esteira de outras poucas cancionistas que lhe antecederam, com aparição bem pontual, caminho para a profusão de compositoras que, com o canto de um sujeito feminino na canção, não param de surgir.
Do disco Joyce (1968), o primeiro da cancionista, "Me disseram", de Joyce, é a revelação das intrigas que perturbam a voz da canção. A ousadia da expressão "meu homem" merece destaque, em uma época em que era a mulher que "era" do homem, e não o contrário.
A ousadia se prolonga quando a mulher, de modo todo natural, sem grilos e, portanto, revolucionário, espalha (para nós: ouvintes) as fraquezas do homem: se a fama dele é de boêmio e de fazer mulher chorar, "só eu sei que ele gosta de carinho, que não quer ficar sozinho, que tem medo de se dar".
Ora, educada na arte de "se dar", a mulher voz da canção, de viés, questiona os parâmetros que regulam a fragilidade dos seres: ele, que no fundo é criança, precisa dela para cantá-lo. É no corpo dela que ele encontra a paz infinita e o caminho mais certo.
Há um jogo amoroso de deslizamento do poder. O senhor vira escravo, e vice-versa. Ela destrona a fama de (lobo) mau, do seu homem, apontando a força que exerce sobre o pensamento dele: que transparece autosuficiência (nasceu com canção dentro do peito), não precisa do canto alheio.
Porém, o mais revelador vem nos derradeiros versos, quando a mulher, sem rancor ou falso instinto de superioridade, imbrica ao desejo do homem o seu próprio desejo: preservando um segredo só dos dois, algo que se equaliza na intimidade dos corpos, quando os dois, juntos, continuam a viagem onde tudo lhes fascina.
***
Me disseram
(Joyce)
Já me disseram
Que meu homem não me ama
Me contaram que tem fama
De fazer mulher chorar
E me informaram
Que ele é da boemia
Chega em casa todo dia
Bem depois do sol raiar
Só eu sei
Que ele gosta de carinho
Que não quer ficar sozinho
Que tem medo de se dar
Só eu sei
Que no fundo ele é criança
E é em mim que ele descansa
Quando pára pra pensar
Já me disseram
Que ele é louco e vagabundo
Que pertence a todo mundo
Que não vai mudar pra mim
E me avisaram
Que quem nasce desse jeito
Com canção dentro do peito
É boêmio até o fim
Só eu sei
Que ele é isso e mais um pouco
Pode ser que seja louco
Mas é louco só no amor
Só eu sei
Quando o amor vira cansaço
Ele vem pro meu abraço
E eu vou pra onde ele for
(Joyce)
Já me disseram
Que meu homem não me ama
Me contaram que tem fama
De fazer mulher chorar
E me informaram
Que ele é da boemia
Chega em casa todo dia
Bem depois do sol raiar
Só eu sei
Que ele gosta de carinho
Que não quer ficar sozinho
Que tem medo de se dar
Só eu sei
Que no fundo ele é criança
E é em mim que ele descansa
Quando pára pra pensar
Já me disseram
Que ele é louco e vagabundo
Que pertence a todo mundo
Que não vai mudar pra mim
E me avisaram
Que quem nasce desse jeito
Com canção dentro do peito
É boêmio até o fim
Só eu sei
Que ele é isso e mais um pouco
Pode ser que seja louco
Mas é louco só no amor
Só eu sei
Quando o amor vira cansaço
Ele vem pro meu abraço
E eu vou pra onde ele for
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