- Mas porque não devo ser mau, como todos os demais? - exclamou impetuosamente Páviel Pávlovitch.
Lembro sempre desse trecho do livro O eterno marido, de Fiódor Dostoiévski, quando ouço "Minha fama de mau", de Erasmo Carlos e Roberto Carlos. Isso porque, nessa canção, há um sujeito que assume, imbuído pelo desejo de conquista, o lado b: aquele que todos nós temos, mas, domesticados e docilizados, fazemos de tudo para conter, esconder e negar.
O sujeito da canção, ao contrário, usa sua fama de mau, ou seja, ele mesmo não se diz mau, autocanta-se pelo canto alheio, como charme pessoal. Faz parte do show manter um certo clima cafajeste.
Como todos os outros rapazes de sua turma, ele precisa se impor sobre os desejos femininos de seu broto, para não parecer mole: temor maior do macho sedutor. Igual aos parceiros de aventuras e conquistas, o sujeito precisa ser (ao menos parecer: sintoma das inseguranças intrínsecas à juventude, mesmo a transviada) mau.
Gravada por Erasmo Carlos e Rita Lee (no disco Erasmo Carlos convida, 1980), "Minha fama de mau" plasma um momento decisivo para o rock nacional: um gênero importado e de atitude agressiva (jovem e moderna), mas que, por aqui, agraciado pela nossa malemolência, tendia para o lado bom dos afetos.
Não à toa o livro de memórias de Erasmo Carlos chama-se Minha fama de mau. O empolgante livro conta os caminhos e os descaminhos percorridos pelo tremendão para atravessar e manter a tal fama.
O monólogo interno que o sujeito estabelece para si na canção cria a própria canção. Deixar ou não deixar "meu bem" ir ao cinema, eis a questão: "Garota ir ao cinema é uma coisa normal, mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau". O diálogo entre Rita e Erasmo no final da canção joga com o que cada parte (fêmea e macho) pode e não pode fazer.
O sujeito pop-rock capta isso e luta para manter a "fama de mau" roqueira. Ele faz isso pleno de referências sonoras: de "Splish splash" à "Flagra" - revelando sua fragilidade ao ouvinte que, envolvido pela melodia, torna-se cúmplice da maldade. Afinal, ainda persiste a torta ideia de que a melhor forma de seduzir é posando de star.
Lembro sempre desse trecho do livro O eterno marido, de Fiódor Dostoiévski, quando ouço "Minha fama de mau", de Erasmo Carlos e Roberto Carlos. Isso porque, nessa canção, há um sujeito que assume, imbuído pelo desejo de conquista, o lado b: aquele que todos nós temos, mas, domesticados e docilizados, fazemos de tudo para conter, esconder e negar.
O sujeito da canção, ao contrário, usa sua fama de mau, ou seja, ele mesmo não se diz mau, autocanta-se pelo canto alheio, como charme pessoal. Faz parte do show manter um certo clima cafajeste.
Como todos os outros rapazes de sua turma, ele precisa se impor sobre os desejos femininos de seu broto, para não parecer mole: temor maior do macho sedutor. Igual aos parceiros de aventuras e conquistas, o sujeito precisa ser (ao menos parecer: sintoma das inseguranças intrínsecas à juventude, mesmo a transviada) mau.
Gravada por Erasmo Carlos e Rita Lee (no disco Erasmo Carlos convida, 1980), "Minha fama de mau" plasma um momento decisivo para o rock nacional: um gênero importado e de atitude agressiva (jovem e moderna), mas que, por aqui, agraciado pela nossa malemolência, tendia para o lado bom dos afetos.
Não à toa o livro de memórias de Erasmo Carlos chama-se Minha fama de mau. O empolgante livro conta os caminhos e os descaminhos percorridos pelo tremendão para atravessar e manter a tal fama.
O monólogo interno que o sujeito estabelece para si na canção cria a própria canção. Deixar ou não deixar "meu bem" ir ao cinema, eis a questão: "Garota ir ao cinema é uma coisa normal, mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau". O diálogo entre Rita e Erasmo no final da canção joga com o que cada parte (fêmea e macho) pode e não pode fazer.
O sujeito pop-rock capta isso e luta para manter a "fama de mau" roqueira. Ele faz isso pleno de referências sonoras: de "Splish splash" à "Flagra" - revelando sua fragilidade ao ouvinte que, envolvido pela melodia, torna-se cúmplice da maldade. Afinal, ainda persiste a torta ideia de que a melhor forma de seduzir é posando de star.
***
Minha fama de mau
(Erasmo Carlos, Roberto Carlos)
Meu bem às vezes diz
que deseja ir ao cinema
Eu olho e vejo bem
que não há nenhum problema
E digo não
Por favor
Não insista e faça pista
Não quero torturar meu coração
Garota ir ao cinema é uma coisa normal
mas é que eu tenho
que manter a minha fama de mau
Meu bem chora, chora
e diz que vai embora
Exige que eu lhe peça
desculpas sem demora
E digo não
Por favor?
Não insista e faça pista
Não quero torturar meu coração
Perdão à namorada é uma coisa normal
mas é que eu tenho
que manter a minha fama de mau
E digo não! Digo não! Digo não, não, não
E digo não! digo não! digo não, não, não
Perdão à namorada é uma coisa normal
mas é que eu tenho
que manter a minha fama de mau
(Erasmo Carlos, Roberto Carlos)
Meu bem às vezes diz
que deseja ir ao cinema
Eu olho e vejo bem
que não há nenhum problema
E digo não
Por favor
Não insista e faça pista
Não quero torturar meu coração
Garota ir ao cinema é uma coisa normal
mas é que eu tenho
que manter a minha fama de mau
Meu bem chora, chora
e diz que vai embora
Exige que eu lhe peça
desculpas sem demora
E digo não
Por favor?
Não insista e faça pista
Não quero torturar meu coração
Perdão à namorada é uma coisa normal
mas é que eu tenho
que manter a minha fama de mau
E digo não! Digo não! Digo não, não, não
E digo não! digo não! digo não, não, não
Perdão à namorada é uma coisa normal
mas é que eu tenho
que manter a minha fama de mau
3 comentários:
Acho que você está equivocado com a idéia que a década de oitenta formou o rock brasileiro.
Minha Fama de Mau é de 1965 e já apontava sinais roqueiros entre o rockabilly da época.
Anônimo,
depende do que você entende por formação.
sugiro a leitura do livro "Brock - o Rock Brasileiro dos Anos 80", de Arthur Dapieve
Só levanto que, se formos tratar de cronologia histórica, não podemos, portanto esquecer que, em 1957, Cauby Peixoto foi o primeiro cantor brasileiro a gravar um rock em português: "Rock and Roll em Copacabana", de Miguel Gustavo...
A questão é saber definir em que momento o rock se constitui como gênero e não como experimentação estética, no Brasil.
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