Para Carlos Louzada
"Canção para inglês ver", de Lamartine Babo, causa estranhamento já no título: afinal, as canções, em geral, são feitas para a audição, e não para a visão. Mas, basta uma primeira atenção à letra, com suas rimas impagáveis, investindo no gostoso deleite da sonoridade das palavras (brasileiras e americanas), para se perceber o tom jocoso, tropicalista, que atravessa a canção.
"Canção para inglês ver", de Lamartine Babo, causa estranhamento já no título: afinal, as canções, em geral, são feitas para a audição, e não para a visão. Mas, basta uma primeira atenção à letra, com suas rimas impagáveis, investindo no gostoso deleite da sonoridade das palavras (brasileiras e americanas), para se perceber o tom jocoso, tropicalista, que atravessa a canção.
A canção de Lamartine é feita pelo colonizado para "agradar" o colonizador: é a devoração da língua hegemônica; é festa da mistura. Não à toa, a canção foi revisitada e incorporada a Tropicália: movimento assanhou nosso estado de subalternidade.
Guardada no antológico disco A banda tropicalista do Duprat, de 1968, em uma gravação com Os mutantes em pleno êxtase da crítica e do humor dos costumes brasileiros, "Canção para inglês vê" tem um sujeito que, sem saber a língua "de fora", monta um divertido panorama do subdesenvolvido que precisa usar a língua ("de fora") do Senhor para poder se sentir dentro: inserido nas "mudernidades".
Usando a tal língua estrangeira o sujeito forja uma sensação de paridade. Daí o uso do verbo "ver", do título, posto que o desejo do sujeito é, ao usar à língua do outro, ser visto pelo outro. Aliás, isso está presente também na melodia: um fox americano.
É engraçado, e revelador, perceber que, enquanto uns e outros acusaram Carmen Miranda (a musa da Tropicália) de se americanizar, uns e outros faziam de tudo para se afrancesar, americanizar.
Esta leitura ácida da cultura brasileira é perceptível na gravação debochada, imprimindo aquilo que Celso Favaretto, no livro Tropicália: alegoria alegria, chama de "procedimento cafona", à mais não poder, d'Os mutantes, orquestrados pelo mestre na fusão do popular com o erudito Rogério Duprat, que ainda liga a "Canção para inglês vê" à deliciosa "Chiquita Bacana", de João de Barro e Alberto Ribeiro.
O sujeito da canção elabora "a mistura e a dramatização das 'relíquias do Brasil'": nossa fauna e flora são diluídos na língua estranha, mas que "precisa" ser assimilada.
Importa lembrar que a "preocupação" com a perda das características locais de "Canção para inglês vê" estimulou outras canções: tais como "Não tem tradução", de Noel Rosa e Vadico, e "Good bye, boy", de Assis Valente.
Guardada no antológico disco A banda tropicalista do Duprat, de 1968, em uma gravação com Os mutantes em pleno êxtase da crítica e do humor dos costumes brasileiros, "Canção para inglês vê" tem um sujeito que, sem saber a língua "de fora", monta um divertido panorama do subdesenvolvido que precisa usar a língua ("de fora") do Senhor para poder se sentir dentro: inserido nas "mudernidades".
Usando a tal língua estrangeira o sujeito forja uma sensação de paridade. Daí o uso do verbo "ver", do título, posto que o desejo do sujeito é, ao usar à língua do outro, ser visto pelo outro. Aliás, isso está presente também na melodia: um fox americano.
É engraçado, e revelador, perceber que, enquanto uns e outros acusaram Carmen Miranda (a musa da Tropicália) de se americanizar, uns e outros faziam de tudo para se afrancesar, americanizar.
Esta leitura ácida da cultura brasileira é perceptível na gravação debochada, imprimindo aquilo que Celso Favaretto, no livro Tropicália: alegoria alegria, chama de "procedimento cafona", à mais não poder, d'Os mutantes, orquestrados pelo mestre na fusão do popular com o erudito Rogério Duprat, que ainda liga a "Canção para inglês vê" à deliciosa "Chiquita Bacana", de João de Barro e Alberto Ribeiro.
O sujeito da canção elabora "a mistura e a dramatização das 'relíquias do Brasil'": nossa fauna e flora são diluídos na língua estranha, mas que "precisa" ser assimilada.
Importa lembrar que a "preocupação" com a perda das características locais de "Canção para inglês vê" estimulou outras canções: tais como "Não tem tradução", de Noel Rosa e Vadico, e "Good bye, boy", de Assis Valente.
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Canção para inglês ver
(Lamartine Babo)
Ai loviu forguétiscleine meini itapirú
forguetifaive anda u dai xeu no bonde Silva Manuel
ai loviu tchu revi istiven via catchumbai
independence la do Paraguai estudibeiquer Jaceguai
ou ies mai gless salada de alface flay tox mail til
oh istende oiu ou ié forguet not mi
ai Jesus abacaxi uisqui of xuxu
malacacheta independancin dei
istrit flexi me estrepei
delícias de inhame reclaime de andaime
mon Paris jet'aime sorvete de creme
ou ies mai veri gudi naiti
dubli faiti isso parece uma canção do oeste
coisas horríveis lá do faroeste do Tomas Veiga com manteiga
mai sanduíche eu nunca fui Paulo Iscrish
meu nome é Laski Enen Claudi Jony Felipe Canal
laiti endepauer companhia limitada
aiu Zé Boi Iscoti avequi Boi Zebu
Lawrence Olivier com feijão tchu tchu
trem de cozinha não é trem azul
(Lamartine Babo)
Ai loviu forguétiscleine meini itapirú
forguetifaive anda u dai xeu no bonde Silva Manuel
ai loviu tchu revi istiven via catchumbai
independence la do Paraguai estudibeiquer Jaceguai
ou ies mai gless salada de alface flay tox mail til
oh istende oiu ou ié forguet not mi
ai Jesus abacaxi uisqui of xuxu
malacacheta independancin dei
istrit flexi me estrepei
delícias de inhame reclaime de andaime
mon Paris jet'aime sorvete de creme
ou ies mai veri gudi naiti
dubli faiti isso parece uma canção do oeste
coisas horríveis lá do faroeste do Tomas Veiga com manteiga
mai sanduíche eu nunca fui Paulo Iscrish
meu nome é Laski Enen Claudi Jony Felipe Canal
laiti endepauer companhia limitada
aiu Zé Boi Iscoti avequi Boi Zebu
Lawrence Olivier com feijão tchu tchu
trem de cozinha não é trem azul
Um comentário:
Muito bom!!
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