Quando abre a canção "Carnavália", e o disco Tribalistas (2002), dizendo "Bom dia, comunidade", através do que se sugere ser um megafone, desses que se usam em manifestações públicas, de cunho político-social, Carlinhos Brown carrega, na voz, a marca da hibridação: da mestiçagem, da mulatice, brasileiras; do registro de um sujeito que felicita sua área, ao raiar de um novo dia.
Os tribalistas, com suas canções coletivas (mesmo tendo a assinatura dos cancionistas, há o estabelecimento de um clima de resgate da feitura coletiva de canções), mostra um movimento que parece estar fazendo o diferencial na produção cultural contemporânea: em vez do "povo", valoriza-se a "comunidade".
Explico. Mas, para isso, recorro à entrevista que Anderson Cunha, músico do AfroReggae, concedeu para o livro A MPB em discussão. Para a ONG AfroReggae, que tem equacionado os problemas de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, urge transmitir os valores locais, entre eles as musicalidades da área: urge, pelo valor conferido ao local, à comunidade, ascender os jovens daqui ao universal.
Para Santuza Cambraia Naves, no livro Canção Popular no Brasil, "este tipo de projeto apresentado pela geração emergente de músicos, particularmente os rappers, apresenta, portanto, uma natureza híbrida: ao mesmo tempo que recria genealogias e valoriza fortemente a comunidade de origem e a negritude, busca incorporar esses segmentos, via informações modernas, à nova ordem mundial. (...) o que aqui está em jogo é o local (e não o nacional) em diálogo com o internacional".
O sujeito de "Carnavália", de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, convida o ouvinte a entrar na ala: "hoje a minha escola vai desfilar"; e saúda, em uma confraternização para lá de dionisíaca (tropical e brasileira), com objetos fazendo as vezes de adjetivos, dos nomes de algumas das principais escolas de samba do Rio.
Hoje, carnaval, é dia de glória na periferia (favela: comunidade), é quando todos os olhos do mundo voltam os olhos para a mesma direção. "Vamos pra avenida desfilar a vida carnavalizar": arrebentar as (falsas) fronteiras que separam as comunidades e, juntos, "viver e não ter vergonha de ser feliz". Afinal, "Minha escola perdendo ou ganhando faz o carnaval", como diz o sujeito de "Não deixe o samba morrer".
Se a vida ordinária é um ensaio constante para os quatro dias de festa, o sujeito se diz preparado para tocar o outro: ele, assumindo as belezas das diversas comunidades cantadas, é a personificação da carnavália: forma e conteúdo se imbricam - a batucada marca o ritmo do coração: o sujeito é todo corasamborim.
Explico. Mas, para isso, recorro à entrevista que Anderson Cunha, músico do AfroReggae, concedeu para o livro A MPB em discussão. Para a ONG AfroReggae, que tem equacionado os problemas de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, urge transmitir os valores locais, entre eles as musicalidades da área: urge, pelo valor conferido ao local, à comunidade, ascender os jovens daqui ao universal.
Para Santuza Cambraia Naves, no livro Canção Popular no Brasil, "este tipo de projeto apresentado pela geração emergente de músicos, particularmente os rappers, apresenta, portanto, uma natureza híbrida: ao mesmo tempo que recria genealogias e valoriza fortemente a comunidade de origem e a negritude, busca incorporar esses segmentos, via informações modernas, à nova ordem mundial. (...) o que aqui está em jogo é o local (e não o nacional) em diálogo com o internacional".
O sujeito de "Carnavália", de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, convida o ouvinte a entrar na ala: "hoje a minha escola vai desfilar"; e saúda, em uma confraternização para lá de dionisíaca (tropical e brasileira), com objetos fazendo as vezes de adjetivos, dos nomes de algumas das principais escolas de samba do Rio.
Hoje, carnaval, é dia de glória na periferia (favela: comunidade), é quando todos os olhos do mundo voltam os olhos para a mesma direção. "Vamos pra avenida desfilar a vida carnavalizar": arrebentar as (falsas) fronteiras que separam as comunidades e, juntos, "viver e não ter vergonha de ser feliz". Afinal, "Minha escola perdendo ou ganhando faz o carnaval", como diz o sujeito de "Não deixe o samba morrer".
Se a vida ordinária é um ensaio constante para os quatro dias de festa, o sujeito se diz preparado para tocar o outro: ele, assumindo as belezas das diversas comunidades cantadas, é a personificação da carnavália: forma e conteúdo se imbricam - a batucada marca o ritmo do coração: o sujeito é todo corasamborim.
***
Carnavália
(Arnaldo Antunes / Carlinhos Brown / Marisa Monte)
Vem pra minha ala
que hoje a nossa escola vai desfilar
Vem fazer história
que hoje é dia de glória nesse lugar
Vem comemorar
Escandalizar ninguém
Vem me namorar
Vou te namorar também
Vamos pra avenida
Desfilar a vida
Carnavalizar
A Portela tem Mocidade
Imperatriz
No Império tem uma Vila tão feliz
Beija-flor bem ver a porta-bandeira
Na Mangueira tem morena da Tradição
Sinto a batucada se aproximar
Estou ensaiado para te tocar
Repique tocou
O surdou escutou
E o meu corasamborim
Cuíca gemeu
Será que era eu
quando ela passou por mim
Lá Lá...
Aonde?
Lá lá...
Me diga, aonde?
(Arnaldo Antunes / Carlinhos Brown / Marisa Monte)
Vem pra minha ala
que hoje a nossa escola vai desfilar
Vem fazer história
que hoje é dia de glória nesse lugar
Vem comemorar
Escandalizar ninguém
Vem me namorar
Vou te namorar também
Vamos pra avenida
Desfilar a vida
Carnavalizar
A Portela tem Mocidade
Imperatriz
No Império tem uma Vila tão feliz
Beija-flor bem ver a porta-bandeira
Na Mangueira tem morena da Tradição
Sinto a batucada se aproximar
Estou ensaiado para te tocar
Repique tocou
O surdou escutou
E o meu corasamborim
Cuíca gemeu
Será que era eu
quando ela passou por mim
Lá Lá...
Aonde?
Lá lá...
Me diga, aonde?
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