O samba é uma das forças matrizes de nossa canção e da nossa história, enquanto povo: nação. Alcione é daquelas cantoras que, com seu repertório e com suas interpretações, consegue manter o samba vivo: aceso, no coração e na voz de sua (nossa) gente.
Já no disco A voz do samba, de 1975, aceita o convite do sujeito da canção "Não deixe o samba morrer", de Edson Conceição e Aloísio, e canta para a perpetuação do ritmo definidor. O samba, aqui, ganha aspectos para além do campo da canção.
"O morro foi feito de samba, de samba pra gente sambar", diz o sujeito. O samba carrega um povo (e vice versa): sustenta o morro; é a alegria de viver de uma gente "que é pra brilhar, não pra morrer de fome".
Mulher, em um território marcadamente masculino, com canções que, vira e mexe trata a fêmea como mero objeto culpado pelas desgraças do macho, Alcione equaciona, com uma voz potente, nítida e bela (aliás, vale a pena ouvir o disco Sabiá Marron: o samba raro de Alcione, 2010, organizado por Rodrigo Faour), a malandragem típica do bamba, diluindo-a no feminino frágil, mas forte.
Um feminino romântico sim, sem receio de assumir os ais, mas com resíduos da dicção fundada em gestos vocais que vem da fala do malandro: bamba que faz do canto à vida os desvios cirúrgicos e necessários à sobrevivência.
No texto "Dicções malandras do samba", do livro Ao encontro da palavra cantada: poesia, música e voz, a pesquisadora Cláudia Neiva e Matos observa que a fisionomia do malandro modifica-se ao longo do tempo: "mas apesar dessas variações, mantem-se alguns traços axiais, como a marginalidade social, o humor, a postura crítica, a exploração de vários tipos de ambiguidades, obliquidade e maneirismo ao nível poético, musical e vocal".
Já na interpretação de Alcione para "Não deixe o samba morrer" de 1975, quando a voz, sem acompanhamento instrumental, abre o canto do sujeito "cansado de guerra", que procura na avenida um substituto para si, o ouvinte aceita o pedido para cantar junto e, assim, manter o samba girando: fazendo a alegria do morro.
O sujeito da canção, malandro, persuade o ouvinte, que aceita o convite: canta junto. O sujeito sabe que, mesmo sem voz para continuar cantando, o samba (que é a vida), que é de todo mundo e não é de ninguém, precisa continuar fazendo a gente sambar: transformando a dor em alegria.
Metacanção, "Não deixe o samba morrer" fala do próprio fazer poético do samba; da resistência às intempéries da vida no morro através do canto que não morre nunca.
"O morro foi feito de samba, de samba pra gente sambar", diz o sujeito. O samba carrega um povo (e vice versa): sustenta o morro; é a alegria de viver de uma gente "que é pra brilhar, não pra morrer de fome".
Mulher, em um território marcadamente masculino, com canções que, vira e mexe trata a fêmea como mero objeto culpado pelas desgraças do macho, Alcione equaciona, com uma voz potente, nítida e bela (aliás, vale a pena ouvir o disco Sabiá Marron: o samba raro de Alcione, 2010, organizado por Rodrigo Faour), a malandragem típica do bamba, diluindo-a no feminino frágil, mas forte.
Um feminino romântico sim, sem receio de assumir os ais, mas com resíduos da dicção fundada em gestos vocais que vem da fala do malandro: bamba que faz do canto à vida os desvios cirúrgicos e necessários à sobrevivência.
No texto "Dicções malandras do samba", do livro Ao encontro da palavra cantada: poesia, música e voz, a pesquisadora Cláudia Neiva e Matos observa que a fisionomia do malandro modifica-se ao longo do tempo: "mas apesar dessas variações, mantem-se alguns traços axiais, como a marginalidade social, o humor, a postura crítica, a exploração de vários tipos de ambiguidades, obliquidade e maneirismo ao nível poético, musical e vocal".
Já na interpretação de Alcione para "Não deixe o samba morrer" de 1975, quando a voz, sem acompanhamento instrumental, abre o canto do sujeito "cansado de guerra", que procura na avenida um substituto para si, o ouvinte aceita o pedido para cantar junto e, assim, manter o samba girando: fazendo a alegria do morro.
O sujeito da canção, malandro, persuade o ouvinte, que aceita o convite: canta junto. O sujeito sabe que, mesmo sem voz para continuar cantando, o samba (que é a vida), que é de todo mundo e não é de ninguém, precisa continuar fazendo a gente sambar: transformando a dor em alegria.
Metacanção, "Não deixe o samba morrer" fala do próprio fazer poético do samba; da resistência às intempéries da vida no morro através do canto que não morre nunca.
***
Não deixe o samba morrer
(Edson Conceição / Aloísio)
Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba pra gente sambar
Quando eu não puder
Pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas
Não puderem aguentar
Levar meu corpo
Junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar
Eu vou ficar
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final
Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba pra gente sambar
(Edson Conceição / Aloísio)
Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba pra gente sambar
Quando eu não puder
Pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas
Não puderem aguentar
Levar meu corpo
Junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar
Eu vou ficar
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final
Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba pra gente sambar
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