Um conhecido provérbio latino diz que "as palavras voam, mas a escrita permanece". Obviamente, quando ele foi cunhado, não havia os diversos suportes, que conhecemos hoje, para a palavra, para o verbo.
Usado, ainda hoje, para apontar a superioridade da escrita, sobre a vocalidade, este provérbio, de viés e algo profeticamente, lança luz sobre as diversas culturas (vocais, escritas, massivas, midiáticas e ciber) que estão à serviço do registro da palavra, no continuum da cultura humana.
Hoje, as palavras, literalmente, voam; suspendem tempo e espaço; atravessam limites em uma velocidade estonteante, inapreensível ao humano, que, por sua vez precisa "aprender a se multiplicar em identidades deslizantes".
É interessante perceber, como Lucia Santaella lembra, argumenta e aprofunda no livro Linguagens líquidas na era da mobilidade, que a cultura humana é cumulativa. Ou seja, "a cultura contemporânea é global, mundializada e glocal. Ela é uma cultura híbrida e cíbrida. É também conectada, ubíqua, nômade. Além disso, é líquida, fluida, volátil e, por fim, mutante".
Com os sistemas de registro e guarda de sons, as culturas vocais encontraram meios de não-dissipação; de permanência, mesmo fugidios. Hoje, com alguns toques dos dedos, podemos ter acesso, na palma da mão, às palavras (ao canto compositor de identidades) que, "vindas do vento", disparam, em nós, o cheiro de novas estações.
O sujeito da canção "Palavras ao vento", de Marisa Monte e Moraes Moreira, canta a busca do outro, mas vaga no mar do excesso de palavras. Ele finda por comentar o próprio gesto cancional, ao querer poder jurar sua paixão: uma paixão que quer ultrapassar os sentidos pequenos das palavras.
Ele faz isso, registra sua jura, tentando reverter a fluidez das palavras (ao vento), ao gravar seu canto. Pela voz e pela persona singular de Cássia Eller (Com você meu mundo ficaria completo, 1999: que, já no título, tematiza a noção de incompletude do indivíduo), o sujeito, que anda por aí, chega ao destinatário, toda vez que a canção é executada; toda vez que a tristeza dá lugar à esperança (no encontro).
"Palavras ao vento" é o canto daquilo que, imerso na cultura líquida e volátil que nos caracteriza, quer durar: o afeto. Na profusão de olhos e olhares, o sujeito busca um outro que lhe dê ressonância (dádiva) amorosa, onde possa ancorar: "que o nosso amor pra sempre viva" - e vive, a cada nova audição da canção.
Talvez, cansado (e a melodia lenta e a voz passional de Cássia indiciam isso) do cíclico apaixonar-se e desapaixonar-se contemporâneo o sujeito entoa o canto do amor: só ele é real e suplanta as imposições da própria realidade que cerca o sujeito-ilha.
No fundo, o sujeito sente o empenho fracassar, afinal, mesmo seu canto, são palavras ao vento, aquilo que ele, cantor, engendra: palavras momento, palavras apenas - aquilo que Zygmunt Bauman chama e ensaia no livro Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos.
Hoje, as palavras, literalmente, voam; suspendem tempo e espaço; atravessam limites em uma velocidade estonteante, inapreensível ao humano, que, por sua vez precisa "aprender a se multiplicar em identidades deslizantes".
É interessante perceber, como Lucia Santaella lembra, argumenta e aprofunda no livro Linguagens líquidas na era da mobilidade, que a cultura humana é cumulativa. Ou seja, "a cultura contemporânea é global, mundializada e glocal. Ela é uma cultura híbrida e cíbrida. É também conectada, ubíqua, nômade. Além disso, é líquida, fluida, volátil e, por fim, mutante".
Com os sistemas de registro e guarda de sons, as culturas vocais encontraram meios de não-dissipação; de permanência, mesmo fugidios. Hoje, com alguns toques dos dedos, podemos ter acesso, na palma da mão, às palavras (ao canto compositor de identidades) que, "vindas do vento", disparam, em nós, o cheiro de novas estações.
O sujeito da canção "Palavras ao vento", de Marisa Monte e Moraes Moreira, canta a busca do outro, mas vaga no mar do excesso de palavras. Ele finda por comentar o próprio gesto cancional, ao querer poder jurar sua paixão: uma paixão que quer ultrapassar os sentidos pequenos das palavras.
Ele faz isso, registra sua jura, tentando reverter a fluidez das palavras (ao vento), ao gravar seu canto. Pela voz e pela persona singular de Cássia Eller (Com você meu mundo ficaria completo, 1999: que, já no título, tematiza a noção de incompletude do indivíduo), o sujeito, que anda por aí, chega ao destinatário, toda vez que a canção é executada; toda vez que a tristeza dá lugar à esperança (no encontro).
"Palavras ao vento" é o canto daquilo que, imerso na cultura líquida e volátil que nos caracteriza, quer durar: o afeto. Na profusão de olhos e olhares, o sujeito busca um outro que lhe dê ressonância (dádiva) amorosa, onde possa ancorar: "que o nosso amor pra sempre viva" - e vive, a cada nova audição da canção.
Talvez, cansado (e a melodia lenta e a voz passional de Cássia indiciam isso) do cíclico apaixonar-se e desapaixonar-se contemporâneo o sujeito entoa o canto do amor: só ele é real e suplanta as imposições da própria realidade que cerca o sujeito-ilha.
No fundo, o sujeito sente o empenho fracassar, afinal, mesmo seu canto, são palavras ao vento, aquilo que ele, cantor, engendra: palavras momento, palavras apenas - aquilo que Zygmunt Bauman chama e ensaia no livro Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos.
***
Palavras ao vento
(Marisa Monte / Moraes Moreira)
Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança
Em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poer jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras momento
Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento
(Marisa Monte / Moraes Moreira)
Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança
Em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poer jurar que essa paixão jamais será
Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras momento
Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento
Ótima análise!
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