Ciclicamente, a cada verão (folia e apogeu da primavera) a vela do mundo desembarca muitas pessoas em busca de festa e sorriso na Bahia: em Salvador. O carnaval baiano (elétrico, ou não) cresceu assombrosamente com sua promessa de tempo/espaço idílico: momento-instante da liberdade possível.
Digo isso porque "Mimar você", de Alain Tavares e Gilson Babilônia, vem embalando, a cada novo sinal da festa pagã dos corpos, em ritmo de convite e vontade, os encontros dos livre-atiradores e das pegadoras. É nisso que a versão (original?) lançada pela Timbalada (grande vértice de ritmos) investe: na alegria do encontro, depois da espera.
Caetano Veloso (Noites do norte ao vivo, 2001), em belo canto paralelo, investe, por sua vez, no desejo de felicidade que vaza entre os versos da canção. Ao invés da alegria momentânea, que acontece apenas no verão (de corpos ardidos de praia e sol), o sujeito cantado por Caetano quer mimar o outro "nas quatro estações".
De fato, há um convite para que o outro se desarme da potência de livre-atirador (ou pegadora, os gêneros não ficam definidos) e deseje apenas o sujeito da canção. Juntos, o ano inteiro, as personagens poderão construir uma história para si apartir da memória (lembrança) do tempo de luz: montar uma felicidade.
Enquanto o tempo corre, enquanto as estações passam, as personagens curtiriam a felicidade para, quando o carnaval chegar, juntas, poderem também se alegrar de chuva, suor e cerveja.
Na verdade, ele é um folião tipicamente romântico: quer andar na praia de mãos dadas, enquanto os outros ao redor querem curtir o momento. O sujeito parece deslocado: na festa em que ninguém é de ninguém ele achou alguém que ele quer só para si. Daí certa melancolia (a felicidade depende do outro e não apenas do eu) na qual a versão de Caetano investe.
A felicidade, como algo mais duradouro (construção comum de uma história, de um afeto), tem uma pontinha de sofrimento: é impossível ser feliz sozinho. Enquanto que a alegria, pela rapidez da ação e do efeito, é "só alegria". A alegria está mais para o carnaval, já a felicidade está para as outras estações do ano: o cotidiano das relações.
Claro que há controvérsias entre tais definições de alegria e de felicidade. A leitura de um diálogo entre Vinicius de Moraes (para quem é impossível ser feliz sozinho: precisamos do outro como complemento - sexual) e Jorge Luis Borges (é possível ser feliz sozinho: negação do outro, do sexo), dada ao público pela revista Serrote n. 5 e meio, despoleta bons pensamentos sobre a questão.
Seja como for, o sujeito de "Mimar você", mais afeito à ética de Vinícius, quer cantar a vida do/para o outro o ano inteiro: para que juntos eles construam o canto da felicidade (a dois, claro). Mimar é trazer para dentro, recolher ao peito (e ventre materno), cantar e ser feliz: por ter o outro para mimar. Talvez por isso, como Cazuza apontou, só as mães são felizes.
Digo isso porque "Mimar você", de Alain Tavares e Gilson Babilônia, vem embalando, a cada novo sinal da festa pagã dos corpos, em ritmo de convite e vontade, os encontros dos livre-atiradores e das pegadoras. É nisso que a versão (original?) lançada pela Timbalada (grande vértice de ritmos) investe: na alegria do encontro, depois da espera.
Caetano Veloso (Noites do norte ao vivo, 2001), em belo canto paralelo, investe, por sua vez, no desejo de felicidade que vaza entre os versos da canção. Ao invés da alegria momentânea, que acontece apenas no verão (de corpos ardidos de praia e sol), o sujeito cantado por Caetano quer mimar o outro "nas quatro estações".
De fato, há um convite para que o outro se desarme da potência de livre-atirador (ou pegadora, os gêneros não ficam definidos) e deseje apenas o sujeito da canção. Juntos, o ano inteiro, as personagens poderão construir uma história para si apartir da memória (lembrança) do tempo de luz: montar uma felicidade.
Enquanto o tempo corre, enquanto as estações passam, as personagens curtiriam a felicidade para, quando o carnaval chegar, juntas, poderem também se alegrar de chuva, suor e cerveja.
Na verdade, ele é um folião tipicamente romântico: quer andar na praia de mãos dadas, enquanto os outros ao redor querem curtir o momento. O sujeito parece deslocado: na festa em que ninguém é de ninguém ele achou alguém que ele quer só para si. Daí certa melancolia (a felicidade depende do outro e não apenas do eu) na qual a versão de Caetano investe.
A felicidade, como algo mais duradouro (construção comum de uma história, de um afeto), tem uma pontinha de sofrimento: é impossível ser feliz sozinho. Enquanto que a alegria, pela rapidez da ação e do efeito, é "só alegria". A alegria está mais para o carnaval, já a felicidade está para as outras estações do ano: o cotidiano das relações.
Claro que há controvérsias entre tais definições de alegria e de felicidade. A leitura de um diálogo entre Vinicius de Moraes (para quem é impossível ser feliz sozinho: precisamos do outro como complemento - sexual) e Jorge Luis Borges (é possível ser feliz sozinho: negação do outro, do sexo), dada ao público pela revista Serrote n. 5 e meio, despoleta bons pensamentos sobre a questão.
Seja como for, o sujeito de "Mimar você", mais afeito à ética de Vinícius, quer cantar a vida do/para o outro o ano inteiro: para que juntos eles construam o canto da felicidade (a dois, claro). Mimar é trazer para dentro, recolher ao peito (e ventre materno), cantar e ser feliz: por ter o outro para mimar. Talvez por isso, como Cazuza apontou, só as mães são felizes.
***
Mimar você
(Alain Tavares / Gilson Babilônia)
Eu te quero só pra mim
Você mora em meu coração
Não me deixe só aqui
Esperando mais um verão
Te espero, meu bem
Pra gente se amar de novo
Mimar você
Nas quatro estações
Relembrar
O tempo que passamos juntos
Bem bom viver
Andar de mãos dadas
Na beira da praia
Por esse momento
Eu sempre esperei
(Alain Tavares / Gilson Babilônia)
Eu te quero só pra mim
Você mora em meu coração
Não me deixe só aqui
Esperando mais um verão
Te espero, meu bem
Pra gente se amar de novo
Mimar você
Nas quatro estações
Relembrar
O tempo que passamos juntos
Bem bom viver
Andar de mãos dadas
Na beira da praia
Por esse momento
Eu sempre esperei
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