
O gosto pelo rádio e o estudo de música, no início de sua formação, fazem a obra de Tom Zé deslizar entre o popular e a experimentação: o rural e a cidade impactam e atravessam suas canções: movimentam a voz do sujeito que canta.
Na mesma tradição das urbanas "Parque industrial" e "São São Paulo, meu amor", a canção "Augusta, Angélica e Consolação", faz das referências aos espaços paulistas um elogio à mulher-musa; à musa-mulher. A cidade, sereia com seus encantos de mil e uma possibilidades, seduzem e perturbam o sujeito.
Do disco Todos os olhos (1973), que tem a corajosa capa (sugerida pelo poeta Décio Pignatari) com o close em um ânus (em plena Ditadura Militar), ampliando e ironizando os sentidos da palavra "olho", "Augusta, Angélica e Consolação", de Tom Zé, vira-e-mexe está nos roteiros dos shows do artista.
Um pontual coro de lamentos e ais dá à canção um tom suspirante, de um sujeito que encontrou a Consolação, entre uma amante e outra (Augusta e Angélica). O jogo de personificação sublinha um passeio pelas ruas de São Paulo: a metrópole desvairada.
Há uma sacada genial, sobre os significados dos nomes, do sujeito que, no largo dos aflitos, procura uma estação da luz. O jogo lúdico ajuda este sujeito a cantar as três musas com fina ironia: "porque estava tudo escuro dentro do meu coração", diz.
***
Augusta, Angélica e Consolação
(Tom Zé)
Augusta, graças a Deus,
graças a Deus,
entre você e a Angélica
eu encontrei a Consolação
que veio olhar por mim
e me deu a mão
Augusta, que saudade,
você era vaidosa,
que saudade,
e gastava o meu dinheiro,
que saudade,
com roupas importadas
e outras bobagens.
Angélica, que maldade,
você sempre me deu bolo,
que maldade,
e até andava com a roupa,
que maldade,
cheirando a consultório médico,
Angélica.
Quando eu vi
que o Largo dos Aflitos
não era bastante largo
para caber minha aflição,
eu fui morar na Estação da Luz,
porque estava tudo escuro
dentro do meu coração
(Tom Zé)
Augusta, graças a Deus,
graças a Deus,
entre você e a Angélica
eu encontrei a Consolação
que veio olhar por mim
e me deu a mão
Augusta, que saudade,
você era vaidosa,
que saudade,
e gastava o meu dinheiro,
que saudade,
com roupas importadas
e outras bobagens.
Angélica, que maldade,
você sempre me deu bolo,
que maldade,
e até andava com a roupa,
que maldade,
cheirando a consultório médico,
Angélica.
Quando eu vi
que o Largo dos Aflitos
não era bastante largo
para caber minha aflição,
eu fui morar na Estação da Luz,
porque estava tudo escuro
dentro do meu coração
Salve Léo! Depois de Sampa essa é a música mais paulistana que conheço. Não andam com saudade da minha terra não? Fortes abraços pra vocês!
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